Título: Jordânia muda governo para evitar distúrbios
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2011, Internacional, p. A13

Em meio a crescentes manifestações em Amã e outras cidades do país, rei Abdullah demite primeiro-ministro e nomeia um conservador para cargo

Assim como o Egito, a Jordânia também enfrenta turbulência política e tenta superar os protestos contra o regime por meio de mudanças no governo. Aliado estratégico dos EUA no Oriente Médio, o rei Abdullah demitiu ontem o seu premiê em meio a crescentes manifestações nas ruas de Amã e de outras cidades jordanianas.

Muhammad Hamed/ReutersEcos do Cairo. Família jordaniana protesta nas ruas de Amã No cargo do impopular primeiro-ministro Samir Rifai entrará o ex-premiê Marouf Bakhit. De acordo com analistas, ele é mais conservador. A medida, segundo membros da oposição jordaniana, será insuficiente para impedir o prosseguimento dos protestos inspirados no Egito. Alguns começam a pedir até mesmo o fim da monarquia hachemita, no poder desde a criação do país, nos anos 40.

"Esse não é um passo na direção certa e não demonstra uma intenção verdadeira de realizar reformas políticas ou de levar em conta as demandas do povo de mais liberdades democráticas", afirmou Sheik Hamza Mansour, que comanda a Frente de Ação Islâmica (FAI), um braço da Irmandade Muçulmana na Jordânia.

Ocidentalização. Diferentemente do Egito, os radicais islâmicos podem disputar as eleições parlamentares jordanianas. No entanto, os religiosos reclamam que o governo faz de tudo para impedir o fortalecimento do partido no Parlamento.

De acordo com a FAI, um dos responsáveis pela repressão política é justamente o premiê indicado ontem, que tomou medidas contra o grupo quando estava no poder.

A Jordânia é considerada um dos países mais ocidentalizados do mundo árabe e um dos poucos que mantém relações diplomáticas com Israel. Os manifestantes jordanianos, entretanto, reclamam da penúria econômica. Sem petróleo, a economia local tem poucos recursos.

Em editorial sobre a situação no Egito, publicado ontem, o diário governista Jordan Times, ironicamente, disse que os EUA precisam escolher entre "o regime de Mubarak e o povo". Os opositores jordanianos se perguntam se o mesmo não se aplicaria a Amã.