Título: Sem banco, grupo ainda tem TV, varejo e vendas diretas
Autor: Modé, Leandro ; Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2011, Economia, p. B1

Segundo consultor, a expansão acelerada em diversos setores pode levar grupos familiares a perder controle da gestão

O Grupo Silvio Santos, que contabilizava mais de 40 empresas antes da venda do Banco Panamericano ao BTG Pactual, ainda concentra uma miríade de empreendimentos que inclui capitalização (Telesena), a marca de cosméticos Jequiti, o hotel Jequitimar, negócios imobiliários e o SBT - tudo isso sem contar outras participações acionárias.

Sem o Panamericano, porém, o grupo perde o braço mais rentável. Em 2009, o lucro de R$ 171,5 milhões da instituição foi insuficiente para salvar a holding do prejuízo de R$ 8 milhões. Naquele ano, com exceção do SBT, os outros negócios principais fecharam no vermelho.

Entre as companhias que restam, o mercado faz as principais apostas na Jequiti. A empresa atua no setor de vendas diretas, que faturou R$ 26 bilhões em 2010. Cresce fortemente, mas o consultor Marcelo Pinheiro diz que a companhia está em fase de consolidação - e ainda exige altos investimentos.

Um dos desafios é fidelizar a força de vendas. A Jequiti contabiliza cerca de 160 mil revendedoras, enquanto a Avon tem hoje 1,1 milhão de associadas. A expansão da força de vendas se baseia na possível participação em uma atração que distribui prêmios no SBT. Para Pinheiro, a estratégia pode não se sustentar no longo prazo, o que pode levar à migração de "colegas de trabalho" a marcas mais famosas.

Do lado negativo do espectro estão as lojas do Baú Crediário. O consultor em varejo Eugênio Foganholo diz que o negócio não gerou frutos: "O grupo teve posição relevante com a Tamakavi, nos anos 80, vendida para a Casas Bahia. Mas as coisas mudaram - hoje, o consumidor não pega mais crédito na loja. E o nome também confunde. A pessoa pode relacionar a loja aos carnês."

Gestão. Para Márcio Roldão, consultor especialista em empresas familiares, é comum que grupos concentrados na figura do "patrão" percam o controle ao se expandir rapidamente para setores com os quais têm pouca familiaridade. Segundo ele, os empresários podem perder a mão ao delegar funções. Após o escândalo do Panamericano, Silvio Santos foi criticado pela escolha de Rafael Palladino, formado em educação física, para comandar um negócio de bilhões de reais.

Diante de tantas atividades diferentes, o próprio Silvio admitiu, depois de bater o martelo da venda do Panamericano, que não tem noção de muito do que se passa em suas empresas: "A única coisa que entendo um pouco é de televisão. O resto, o dinheiro que se ganha a gente coloca em empresas e (escolhe) alguém para tomar conta."

Procurado, o Grupo Silvio Santos informou que ontem que não concederia entrevistas.