Título: Para analistas, petróleo em alta não encarece gasolina
Autor: Magossi, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2011, Economia, p. B10

Petrobrás deve manter preços dos combustíveis mesmo com a oscilação internacional provocada por crise política no Egito

A atual escalada do preço do petróleo não deve resultar em aumentos nos preços da gasolina e do diesel no País. A opinião é de analistas consultados pelo Estado, para quem a Petrobrás vai manter sua estratégia de acompanhar o mercado internacional a longo prazo. Ainda mais em um momento em que a inflação se torna motivo de preocupação para o governo. Ontem o petróleo Brent, negociado em Londres, fechou em US$ 101,74 por barril, por causa de preocupações com a crise política no Egito.

O analista de petróleo do Banco do Brasil, Nelson Rodrigues de Mattos destacou que a Petrobrás vem mantendo, nos últimos dois anos, os preços da gasolina e do diesel, estratégia que não deve ser mudada por causa de um "episódio pontual" que pressiona os preços internacionais. Segundo suas contas, os valores praticados pela estatal brasileira estão hoje 2% inferiores às cotações americanas. Nos últimos dois anos, os preços internos estiveram mais caros.

"Não acredito que, no primeiro momento em que há uma defasagem para baixo, a Petrobrás eleve os preços." Para o analista, a Organização dos Produtores e Exportadores de Petróleo (Opep) deve atuar para reduzir a pressão sobre o barril de petróleo neste momento de conflito. Essa alta, observou, se prolongada, poderia retardar a recuperação da economia mundial.

O Egito tem importância estratégica no transporte de petróleo entre o Oriente Médio e a Europa. Por isso, o Brent está mais pressionado que o WTI, negociado em Nova York, que ontem fechou a US$ 99,07 por barril.

O analista de petróleo da Geração Futuro, Lucas Brendler, também aposta em manutenção no preço da gasolina e diesel no mercado interno - mesma opinião do Copom, segundo a ata da última reunião do conselho. Além de serem produtos com maior influencia sobre a inflação, o analista também aponta a estratégia de focar no longo prazo como um empecilho para uma subida de preços. Para Brendler, a Petrobrás só teria mais interesse de elevar os preços caso o valor do preço do barril se mantenha pressionado por mais tempo.

Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a manutenção dos preços internacionais em níveis mais altos é um risco real. "O petróleo já vinha subindo desde o fim do ano passado porque todos esperam uma recuperação mais rápida da economia mundial. E a oferta de petróleo não vai crescer muito este ano", comenta ele, que já previa cotações em torno dos US$ 100 por barril no segundo trimestre.

Pires, porém, concorda que os preços da gasolina e do diesel devem ser mantidos, mesmo com o petróleo mais caro, por causa do impacto inflacionário dos produtos. Ele lembra, por outro lado, que a estatal tem uma política de reajustes mais frequentes para outros produtos, como querosene de aviação, nafta petroquímica e óleo combustível, cujos preços devem sentir os efeitos da crise política no Egito.