Título: Escolha de Dilma para Furnas amplia força política de grupo ligado a Sarney
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2011, Nacional, p. A4

Flávio Decat, apadrinhado do presidente do Senado e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, vai presidir a estatal; decisão barra hegemonia de deputados peemedebistas no setor elétrico, como Eduardo Cunha (RJ), e amplifica atritos na base aliada

BRASÍLIA - Em mais uma demonstração pública de afirmação de sua autoridade e da animosidade que marca a relação entre os partidos da base aliada, a presidente Dilma Rousseff confirmou nesta quinta-feira, 3, a escolha do engenheiro Flávio Decat para presidir Furnas Centrais Elétricas. Dilma tinha a intenção de levar Decat para a presidência da Eletrobrás, mas a crise política vivida por Furnas, com a circulação de dossiês e acusações mútuas entre petistas e peemedebistas, levou a presidente a mudar sua escolha.

Para a presidência da Eletrobrás o nome mais forte passou a ser o do atual secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, homem de confiança de Dilma Rousseff no setor elétrico. O atual presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Filho, deverá ser descolocado para a presidência da Eletronorte, cargo que já ocupou.

A escolha dos primeiros nomes para a direção das estatais do setor elétrico demonstra, mais uma vez, a força do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no atual governo. Flávio Decat, que ultimamente estava no Grupo Energia, do setor privado, tem o apoio de Sarney e do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Sarney elegeu-se para a presidência do Senado pela quarta vez na última terça-feira. Muniz Filho, que agora deverá ir para a Eletronorte, também é afilhado de Sarney.

Razões

A escolha de Decat para a presidência de Furnas teve três objetivos: além da afirmação da autoridade presidencial e de fazer mais um agrado ao grupo do senador José Sarney, serviu de punição ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), padrinho do atual presidente de Furnas, Carlos Nadalutti Filho.

Dilma mostrou a Cunha que só negociará com o PMDB como um todo, deixando de atender pleitos solitários.

Na crise de Furnas, a presidente optou por ignorar o PMDB da Câmara, ao mesmo tempo em que fortaleceu o PMDB do Senado e seus líderes.

De acordo com participantes de uma reunião entre os dirigentes peemedebistas com o ministro Antonio Palocci (Casa Civil), encerrada às 2 horas da madrugada desta quinta-feira, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), deu berros ao saber que Dilma escolheria Decat para Furnas. "A Câmara não aceita perder Furnas para o Senado", teria dito Henrique Alves, segundo um dos presentes.

Dessa reunião participaram, além de Henrique Alves e Palocci, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e o vice-presidente Michel Temer.

O encontro foi realizado num apartamento de Temer, num hotel que fica a menos de 600 metros do Palácio da Alvorada. No final da tarde de ontem foi feita nova reunião entre os mesmos participantes, quando o nome de Decat foi confirmado.

Coube ao ministro Edison Lobão anunciar a escolha de Decat. "Ele foi convidado pessoalmente pela presidente Dilma Rousseff", afirmou Lobão.

Um dos padrinhos da indicação, o ministro disse que não há o que se falar contra Decat, que é um técnico do setor elétrico e que já trabalhou tanto na iniciativa privada quanto nas estatais. Ele já foi diretor da Eletrobrás - quando caiu nas graças de Dilma Rousseff - e já presidiu estatais do setor elétrico nos Estados, como as de Alagoas e as do Piauí.

De acordo com Lobão, Decat vai pedir que todos os diretores de Furnas coloquem seus cargos à disposição. Os novos nomes que comporão a diretoria, afirmou Lobão, serão definidos por consenso entre ele e Decat. Atualmente a direção de Furnas é dividida entre petistas e peemedebistas.