Título: Manifestantes saem à caça da imprensa
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2011, Internacional, p. A14

Partidários de Mubarak ameaçam e espancam repórteres estrangeiros; dois jornalistas brasileiros são presos e deportados pela polícia

O Exército egípcio tentou calar a imprensa internacional, confiscando material dos principais jornais brasileiros e sequestrando e prendendo repórteres de todo o mundo. O objetivo é evitar que informações sobre a repressão da ditadura sejam divulgadas.

Em nota, o Departamento de Estado dos EUA protestou contra as "informações" de que as agressões de manifestantes foram orquestradas pelo Ministério do Interior, órgão que centraliza a repressão no Egito.

Um jornalista belga sumiu, repórteres do New York Times, CNN, Globe & Mail foram presos e dois brasileiros passaram uma noite inteira em um sala de delegacia. Um correspondente do jornal Zero Hora acabou sendo duramente agredido por manifestantes pró-Hosni Mubarak. Ontem, três dos jornalistas presos ainda não tinham dado sinais de vida.

"Não assistam às TVs estrangeiras. É o Estado quem vai proteger seus pais e suas famílias", apelou, na TV estatal, o vice-presidente do Egito, Omar Suleiman, ex-chefe do serviço secreto.

Nas ruas, a ordem era reprimir qualquer trabalho jornalístico. Os repórteres da TV Brasil, Corban Costa e Gilvan Rocha, foram presos, vendados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos. Passaram a noite em uma sala e apenas foram liberados após assinarem uma declaração, em árabe, de que voltariam imediatamente ao Brasil. O Itamaraty emitiu uma nota protestando contra a detenção dos dois repórteres do canal.

Agressão. Perto dali, o correspondente do jornal gaúcho Zero Hora, Luiz Antonio Araújo, foi rodeado por cerca de 50 manifestantes, teve sua carteira roubada e levou socos e pontapés.

Ontem, vários jornalistas foram feridos por pedras e murros de manifestantes. Uma repórter espanhola acabou detida por duas horas sem explicação. O jornal belga Le Soir informou ontem que seu correspondente desapareceu.

Todos os quartos do Hotel Hilton foram ontem invadidos e câmeras acabaram confiscadas pelos agentes de segurança, que tentavam barrar a difusão de imagens da violência.

Embaixadas de vários países, como Argentina e Grécia, enviaram carros para resgatar seus jornalistas. A missão do Brasil no Cairo avisou que não tinha como ajudar com o transporte para sair do local.

Os repórteres dos jornais brasileiros Estado, Folha e Globo conseguiram escapar do hotel onde estavam pouco antes de o local ser invadido por manifestantes pró-Mubarak, que procuravam estrangeiros.

O táxi que levou os três jornalistas foi parado por militares, que apagaram todas as fotos dos protestos. Cartões de memória foram arrancados das máquinas.

Momentos depois, o hotel Hilton, que servia de base para os jornalistas estrangeiros, foi cercado por manifestantes governistas e passou a ser alvo de pedradas.

Da rua, manifestantes acusavam a imprensa de estar tentando derrubar o governo. Jornalistas espanhóis, italianos, canadenses, americanos e dezenas de outros que não conseguiram sair foram obrigados a permanecer sitiados no hotel.