Título: EUA pressionam por negociações diretas
Autor: Sant?Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2011, Internacional, p. A8

Em entrevista à Fox news, Obama diz que Irmandade Muçulmana não representa maioria dos egípcios e tem membros ''antiamericanos''

Autoridades do governo dos EUA defenderam ontem a negociação direta entre o vice-residente egípcio, Omar Suleiman, e a oposição. Em entrevista à Fox News, o presidente Barack Obama disse que a Irmandade Muçulmana, maior grupo de oposição no Egito, não representa a maioria dos egípcios e advertiu que "partes" da organização adotam discurso "antiamericano".

Os EUA evitam adotar uma posição clara sobre a participação da Irmandade Muçulmana no diálogo entre a oposição e o regime no Cairo. "A população egípcia pretende ter uma transição ordenada que leve a eleições livres e justas", disse a secretária de Estado, Hillary Clinton. "Isso é o que os EUA têm constantemente apoiado. Estamos nos esforçando muito para ter certeza de que o processo de diálogo que já começou tenha importância e seja transparente", acrescentou.

Questionada sobre a participação da Irmandade, Hillary disse que "ao menos eles estão envolvidos no diálogo".

O senador democrata John Kerry, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, considerou "extraordinário" que grupos opositores, incluindo a Irmandade, estejam participando das negociações.

A Irmandade tem se comprometido a apoiar a democracia e aceitou até mesmo a liderança de figuras laicas, como o Nobel da Paz Mohammad ElBaradei, no diálogo como o regime. Apesar de participarem, eles tampouco comandaram protestos. Há anos, abdicaram de ações violentas.

O problema, para os EUA, está na posição da Irmandade em relação a Israel. Líderes do grupo têm evitado dizer se suspenderiam o acordo de paz com os israelenses e dizem que os palestinos têm o direito de resistir contra a ocupação. O Hamas, considerado terrorista pelos EUA, foi inspirado na Irmandade Muçulmana e as duas organizações ainda mantêm relações.

Pós Mubarak. Os EUA já tratam Suleiman como o líder do processo de transição. Kerry, disse que Mubarak, depois de anunciar há uma semana sua intenção de não disputar as eleições presidenciais de setembro, "precisa deixar claro qual o calendário" para a sua saída e "como será o processo".

"Os EUA estão se posicionando ao redor de Suleiman como uma figura chave para a transição porque ele pode controlar o Exército. Com o Iraque em mente, Washington sabe dos riscos de violência e instabilidade política que podem resultar de uma mudança de regime muito rápida", afirma Hani Sabra, analista de Oriente Médio da consultoria de risco político Eurasia.