Título: Exportar urânio exige investimento de R$ 10 bilhões
Autor: Salomon, Marta
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2011, Economia, p. B1

Esse seria o custo para a produção do combustível nuclear em escala industrial; itens mais caros são as ultracentrífugas

A transformação do Brasil em exportador de urânio exigirá investimentos de R$ 10 bilhões, quase um ano de pagamento do programa Bolsa Família, calcula o estudo, num primeiro exercício sobre o tema. Esse seria o custo aproximado para o domínio do ciclo de produção do combustível nuclear em escala industrial. O item mais caro são as ultracentrífugas usadas no enriquecimento do urânio, produzidas pela Marinha.

Atualmente, para abastecer as usinas de Angra 1 e 2, o país recorre a serviços da França e de um consórcio europeu para duas etapas do processo: a conversão do concentrado de urânio em gás e o enriquecimento. O abastecimento do mercado interno não justificaria a construção de novas fábricas no país para essas etapas, alega o estudo, mesmo com anunciada intenção do governo de construir mais quatro usinas nucleares até 2030.

Contatos. Na viagem feita entre 13 de novembro e 5 de dezembro do ano passado à França, à China e à Coreia, para sondar o interesse de importadores de urânio enriquecido, os sinais mais promissores foram colhidos na França, relata o secretário-executivo da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Luiz Alfredo Salomão, em relatório de viagem.

"Mme. Lauvergeon reagiu com entusiasmo, dizendo que havia proposto à então ministra Dilma investimento da Areva na pesquisa de minério de urânio, na sua lavra e beneficiamento para exportação", relata Salomão, sobre o encontro com a presidente da multinacional Areva, a maior produtora de urânio enriquecido do mundo. Lauvergeon teria considerado "perfeitamente possível" uma parceria para a conversão e o enriquecimento do urânio, mas sugeriu que o país deve se apressar para aproveitar uma "janela de oportunidade" nesse mercado.

Com os chineses e os coreanos, a conversa inicial foi mais dura. O diretor-geral do Departamento de Energia Elétrica da China, Xu Yong Sheng, mostrou interesse em comprar urânio natural para ser enriquecido lá. "Mostrei a ele que não seria sustentável a longo prazo o Brasil apenas vender commodities básicas para a China, que era indispensável que a China nos comprasse produtos de alto valor agregado, se quisesse manter um cliente a longo prazo", relatou Salomão. Os contatos foram acompanhados pelo Itamaraty.

A China constrói 30 novas usinas nucleares, mais da metade das 55 usinas em construção no mundo. Outras 468 usinas estariam em fase de planejamento, fato que sustenta o cenário mais otimista de crescimento do mercado de combustível nuclear, embalado por restrições impostas pelo aquecimento global a fontes de energia que emitem mais gases de efeito estufa.