Título: Primeiro apagão do governo Dilma deixa 46 milhões sem luz no Nordeste
Autor: Pamplona, Nicola
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/02/2011, Economia, p. B1

Blecaute começou com falha de sistema de transmissão na Bahia e deixou oito Estados no escuro por mais de quatro horas

Brasileiros de oito Estados do Nordeste enfrentaram transtornos na madrugada de ontem por causa de uma falha no sistema de transmissão de energia, que deixou 46 milhões sem luz. A interrupção no fornecimento começou por volta de 0h30 e provocou caos em serviços públicos e hospitais, além de paralisar as atividades do principal polo petroquímico do País, na Bahia. O governo ainda não sabe as causas do apagão.

Ex-ministra de Minas e Energia, a presidente Dilma Rousseff determinou às autoridades do setor que tomem providências imediatas para descobrir as causas e evitar a repetição do problema. Avaliações preliminares apontam para uma falha no sistema de proteção da subestação Luiz Gonzaga, operada pela Chesf, em Pernambuco.

Segundo a Chesf, à 0h08 de ontem um equipamento chamado cartela desligou uma das linhas de transmissão que ligam a subestação Luiz Gonzaga ao município de Sobradinho (BA). Às 0h21, outras cinco linhas no mesmo trajeto também foram desligadas, provocando um efeito cascata que interrompeu o suprimento de toda a Região Nordeste, com a exceção do Maranhão.

Na segunda-feira, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) se reúne com a Chesf para discutir as causas do incidente. O objetivo é descobrir por que o equipamento foi acionado, desligando a primeira linha. A hipótese de falha humana está praticamente descartada. E não havia chuvas ou raios na região.

A Chesf informou que o suprimento começou a ser restabelecido às 1h10 da manhã, primeiro em Fortaleza. Natal foi a capital que ficou mais tempo no escuro: a energia só foi religada a partir das 4h10. Às 4h37, diz a empresa, todos os consumidores já recebiam eletricidade. Ao todo, 8 mil megawatts (MW) de carga foram desligados durante a noite.

"Foi um evento considerado raro", afirmou o superintendente de operação da Chesf, João Henrique Franklin, em nota. O governo evitou usar o termo "apagão" para definir o incidente. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, preferiu a expressão "interrupção temporária de energia". Para a presidente da República, a palavra apagão denota falta de capacidade de gerar energia, como ocorreu durante o racionamento de 2001.

Consumo. Agora, não há falta de água nos reservatórios como em 2001, mas especialistas alegam que falta investimento em modernização e manutenção do sistema de transmissão, principalmente diante do crescimento do consumo nos últimos anos - segundo a Empresa de Pesquisa Energética, a Região Nordeste teve o maior crescimento de consumo entre as regiões brasileiras em 2010, de 8,8%, ante uma média nacional de 7,8%.

Em novembro de 2009, a queda de linhas de transmissão que transportam a energia de Itaipu deixou 18 Estados sem luz. Na época, o governo atribuiu a questão ao mau tempo, mas determinou que Furnas trocasse equipamentos de proteção antigos, que teriam contribuído para aumentar a dimensão do problema.

O ONS alegou que não teria como evitar o efeito cascata no Nordeste após a queda das cinco linhas de transmissão, que transportam energia de grandes hidrelétricas da região. Segundo o ONS, os sistemas de proteção desligaram outras linhas por causa da grande oscilação de tensão na rede local. A avaliação é que o sistema de isolamento funcionou corretamente, ao evitar interrupções de energia em outras regiões. / COLABORARAM TIAGO DÉCIMO, MÔNICA BERNARDES E RENATO ANDRADE