Título: Pequenos e médios produtores sustentam alta
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2011, Economia, p. B1

Nem mesmo o maior rigor imposto pelo governo na compra de terras por estrangeiros esfriou o mercado imobiliário rural. Desde agosto de 2010, foram mudadas as regras de aquisição de terras por estrangeiros. Em alguns casos, dependendo da localização e da área, é necessário até autorização do Congresso Nacional para que o negócio seja fechado.

"Hoje os fundos estrangeiros de investimento em terras estão fora do mercado, mas continuam estudando alternativas e prospectando negócios na Bahia e em São Paulo", diz Jacqueline Bierhals, gerente da consultoria Informa Economics / FNP.

A expectativa de Jacqueline era que a maior restrição a estrangeiros tivesse reflexo no mercado, com recuo nos preços das terras. Mas isso não ocorreu e as cotações continuaram subindo, sustentadas pelas aquisições de pequenos e médios produtores nacionais, de olho nas boas perspectivas do agronegócio.

Na região dos municípios de Luís Eduardo Magalhães e Barreiras, polo produtor de soja, milho, café e algodão, o número de produtores americanos interessados em comprar terras diminuiu, diz o gerente da Cooperativa Agropecuária do Oeste da Bahia, Toninho Assunção.

A perda de interesse dos estrangeiros pela região começou antes da mudança nas regras para compra. "Com a crise de 2008, a procura por parte dos americanos diminuiu", lembra Assunção, acrescentando que os chineses continuam visitando a região, mas não fecham negócio.

A valorização, na faixa de 60% das terras agrícolas no último ano na região, foi sustentada pelos produtores brasileiros, pela escassez de terras à venda e pela própria alta do grão. Assunção explica que, como muitos negócios são indexados em sacas de soja por hectare, nos últimos tempos houve não só aumento do preço da soja em reais como em número de sacas por hectare.

Esse movimento também ocorreu no oeste do Paraná, na região de Cascavel. Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, a cooperativa local, diz que o preço da saca de soja subiu de R$ 32 para R$ 45 em 12 meses na região e o número de sacas do produto por hectare aumentou, de 600 para 800 sacas. Para ele, o aumento de 80% na cotação da terra não é uma bolha especulativa. "O consumo mundial de soja cresceu e um parte desse aumento é uma recuperação de preços após a crise de 2008."