Título: Peso da terra no custo do agronegócio deve aumentar
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2011, Economia, p. B1

Valorizações expressivas no preço das terras agricultáveis, de melhor rendimento da produção, estão vinculadas ao fato de o Brasil vir mostrando desempenho crescente e destacado no cenário agropecuário mundial, especialmente nas últimas safras.

E não poderia ser diferente, uma vez que os preços de commodities agropecuárias estão em alta há algum tempo, algumas atingindo recordes históricos - em função da crescente demanda por alimentos e também por matéria-prima para produção do biocombustíveis -, implicando elevados retornos na atividade, atraindo novos investimentos, que, no caso, têm início na aquisição da terra.

O País está no foco internacional dado que grande parte das regiões produtoras no globo tem sentido os agudos efeitos de intempéries climáticas. Internamente, mesmo com recorrentes problemas que alternam excesso de chuvas com períodos de seca, a produtividade geral da safra de grãos vem crescendo, impulsionada também por incorporação de novas fronteiras e por desenvolvimento de tecnologia que tem permitido até três colheitas no mesmo ano.

Parece que a tão propalada vocação agrícola do País está finalmente se concretizando e a profissionalização do setor bem como o avanço tecnológico do parque produtor de bens de capital para a agricultura impulsionam a procura de áreas mais adaptáveis ao uso de máquinas e equipamentos tanto no plantio quanto na colheita, que elevam a produtividade e reduzem o peso de outros componentes do custo de produção, como a mão de obra.

Tudo isso tende a impulsionar os preços da terra, uma vez que mesmo havendo uma vasta área ainda a ser incorporada ao processo produtivo, o custo de se iniciar um projeto em regiões que já contam com alguma infraestrutura e adaptáveis às novas tecnologias é bem menor. Adicionalmente, as questões das licenças ambientais e das regras e restrições impostas pelo zoneamento agropecuário tendem a pressionar o valor da terra.

É possível que no bojo da valorização da terra exista um componente especulativo, de agentes que busquem apenas o retorno desta elevação de preços, sem visar a produção primária, mas ele não deve se sustentar no médio prazo, pelas próprias características cíclicas do agronegócio, que alterna bons e maus anos. O risco inerente à atividade tende a afastar os leigos e também a manter os itens mais pesados do custo de produção em relativo equilíbrio no médio e longo prazo. O fator terra, porém, por ser cada vez mais escasso, deve seguir elevando sua participação no custo total de produção.