Título: Demanda mundial vai ampliar vendas de carne e grãos
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2011, Economia, p. B6

Fatia do Brasil crescerá 7 pontos porcentuais até 2020, enquanto participação no mercado de óleo e farelo de soja deverá cair 3 pontos

A forte demanda mundial por alimentos vai turbinar a posição brasileira no mercado internacional na próxima década. A previsão é que a participação do País nas exportações mundiais de grãos e carnes cresça, pelo menos, 7 pontos porcentuais até 2020. Em contrapartida, a fatia de alguns produtos de maior valor agregado, como o farelo de soja e o óleo de soja, sofrerá uma redução no período, em torno de 3 pontos porcentuais.

As exportações desses produtos continuarão a crescer, mas em ritmo menor que o dos concorrentes, afirma o coordenador de planejamento estratégico do Ministério da Agricultura, José Gasques. Estudo preliminar do governo mostra que, no caso do farelo de soja, a participação do Brasil no mercado internacional vai encolher de 22% para 19,5% até 2020; e a de óleo de soja, de 21% para 18%.

"Vamos perder participação nesse mercado por causa da concorrência de países como Argentina e Estados Unidos", diz Gasques. Na avaliação dos produtores, essa redução decorre de uma série de fatores. Um deles é que todos os países querem importar grãos para beneficiarem e agregarem valor ao produto. Assim geram mais investimentos e empregos.

Do outro lado, há a necessidade de uma política pública que incentive a exportação, como a redução de impostos, afirma o secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho. Ele explica que a exportação do grão é isenta de ICMS. Mas, no caso do farelo e do óleo, se o produto for industrializado em Estado diferente do local de produção, há tributação no deslocamento. "Nosso desejo é vender mais farelo e óleo ao exterior. Para isso, o País tem de eliminar esse viés antiexportador."

De acordo com dados da Abiove, entre 2000 e 2010, o volume de exportação de farelo e óleo de soja cresceu 50%, enquanto o de soja em grão teve salto três vezes maior, de 153%. Esse ritmo deve continuar nos próximos anos. Até 2020, o Ministério da Agricultura projeta que a participação da soja em grãos no mercado mundial suba de 30% para 37%.

Carnes. O destaque, no entanto, ficará com o avanço das exportações de carne, diz Gasques. Até o fim da década, a fatia de mercado da carne de frango brasileira saltará de 42% para 48%; e a de carne bovina, de 25% para 32%. Nesse caso, o maior aumento deverá ocorrer também em frango in natura, que é mais barata que a industrializada, completa o coordenador do Ministério da Agricultura. Detalhe: o preço médio da carne in natura é de US$ 1,673 a tonelada e a industrializada, US$ 2,755 a tonelada.

Para Gasques, embora a expectativa de crescimento da exportação dos produtos de maior valor agregado seja menor que a de matéria-prima, o Brasil terá ganhos significativos no agronegócio. Um deles é a diversificação dos produtos vendidos. "Antes era só café, açúcar e soja. Agora temos o avanço das carnes, sucos, leite, milho e frutas." No futuro, a lista de mercados liderados pelo Brasil pode incluir produtos como algodão, celulose, frango e etanol.

O líder global para o segmento de agronegócio da consultoria Accenture, Eduardo Barros, está convicto que o País tem plena condição para conquistar novos mercados no exterior. Ele lembra que nos últimos oito anos a participação do Brasil no mercado internacional quase dobrou para 7% de toda produção disponível.

"Esse número continuará em alta, especialmente porque a previsão é que a produção nacional cresça algo em torno de 40% nos próximos dez anos, enquanto nos Estados Unidos o avanço ficará entre 10% e 15%." Parte do aumento da produção ficará no mercado interno, cujo consumo também apresentará forte crescimento, por causa da melhora da renda da população.

Marketing e acordos. Barros pondera, entretanto, que o governo brasileiro precisa reforçar o marketing de seus produtos no exterior, a exemplo do que fez a Colômbia com o café. Na avaliação dele, isso faz uma grande diferença e facilita o aumento das exportações de novos produtos.

A superintendente técnica da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Rosemeire Cristina dos Santos, adiciona outro ingrediente necessário à expansão da participação brasileira no mercado global: os acordos bilaterais com outros países e blocos econômicos para reduzir ou eliminar tarifas de importação.

Para ela, a liderança do País no agronegócio depende muito dessas negociações, especialmente com a União Europeia. "Esse é um mercado extremamente importante para o Brasil."