Título: Mantega reclama de déficit com EUA
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2011, Economia, p. B1

Em encontro com o secretário do Tesouro dos EUA, ministro da Fazenda ouve críticas à China e pede maior equilíbrio comercial

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reclamou do déficit do comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos com o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. No ano passado, o País teve um rombo de US$ 7,7 bilhões nas trocas comerciais com os Estados Unidos.

O comentário ocorreu em conversa reservada entre os dois em Brasília. Segundo uma fonte presente ao encontro, a preocupação maior de Mantega não é com o saldo negativo, mas com a tendência de fraco crescimento das vendas para os Estados Unidos.

As exportações brasileiras para os EUA cresceram 23,7% em 2010, para US$ 19,3 bilhões. A taxa é bem menor que a alta de 32% nas vendas externas totais do País. Em contrapartida, o Brasil importou US$ 27 bilhões dos americanos, um aumento de 35% em relação a 2009.

O Brasil é hoje o país com o qual os Estados Unidos têm seu maior superávit. Geithner, que não cuida diretamente da área comercial, concordou com as preocupações de Mantega e disse que era preciso buscar maneiras de estimular o comércio e o investimento.

Segundo o porta-voz da Presidência da República, o aumento do comércio também foi o tema escolhido pela presidente Dilma Rousseff como prioridade no diálogo com o governo dos Estados Unidos. O assunto foi abordado na conversa que ela teve com Geithner, que esteve oficialmente no Brasil preparando a visita do presidente Barack Obama, em março.

"É preciso um comércio equilibrado", disse ela, segundo relato do porta-voz. "Enfatizei que temos uma relação econômica muito forte", disse Geithner após a audiência.

O secretário disse a Dilma que Obama tem "grande expectativa" sobre sua visita ao Brasil. A presidente respondeu que tem confiança na relação entre os dois países, que considera "estratégica". Também participaram da reunião o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e o embaixador americano, Thomas Shannon.

Em rápida entrevista após o encontro com Dilma, Geithner disse que Brasil e Estados Unidos estão focados em, depois do auge da crise, melhorar a relação bilateral e avançar no comércio e na economia.

Commodities. Mantega e Geithner também concordaram em resistir à proposta de controle dos preços das commodities, que a França deve apresentar na reunião do G-20 marcada para os dias 18 e 19 deste mês em Paris.

A posição foi frisada por Dilma: "Não se deve responsabilizar as commodities pelo desequilíbrio na economia mundial". Sugestões para conter a especulação nos mercados futuros, porém, podem ser discutidas.

Para Geithner, é "muito difícil" reduzir a volatilidade do mercado de commodities. "É preciso ter cuidado para não atrapalhar o funcionamento desses mercados e inibir os investimentos que podem elevar a oferta de produtos", disse o secretário, em São Paulo, antes de seguir para os encontros em Brasília.

Esse é, no momento, o principal ponto de convergência entre os dois países nas discussões econômicas. Geithner frisou que Brasil e EUA devem trabalhar juntos nos foros internacionais para construir um sistema econômico equilibrado e estável.

O secretário americano também reuniu-se com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Em nota, o BC informou que eles conversaram sobre a agenda internacional, "incluindo os desafios atuais para solidificar o crescimento econômico e a estabilidade financeira por meio de esforços conjuntos de todos os membros do G-20".