Título: O Brasil e as tensões entre a China e os Estados Unidos
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2011, Economia, p. B1

O secretario Timothy Geithner, em visita à FGV/EAESP, enfatizou o papel construtivo que Brasil tem apresentado na reação à superação do desajuste econômico global. O G-20 foi apresentado como um fórum legítimo e funcional. Que papel cabe ao Brasil no ajuste, em particular na tensão entre EUA e China?

É normalmente mal compreendido que os chineses estão fazendo um ajuste do câmbio real mesmo sem alterar significativamente as taxas nominais. Com uma inflação doméstica mais alta que a dos EUA, um câmbio nominal fixo causa uma perda de competitividade da produção chinesa que equivale a uma desvalorização do reiminbi face ao dólar. Números chineses preveem um superávit de US$ 100 bilhões este ano, menor que o de 2010. Isso parece indicar que a China está fazendo esforços para tornar seu crescimento mais voltado para o mercado doméstico. Bom para os EUA? Sem dúvida. Bom para a China? Também.

Bom para o Brasil? As exportações brasileiras para a China estão muito ligadas aos investimentos em infraestrutura (commodities não alimentícias) e consumo (commodities alimentícias). Dito de outra forma, a exportações brasileiras dependem fortemente da urbanização e do aumento da renda per capita na China. O Brasil não é fornecedor de insumos diretos para a cadeia logística de exportação chinesa, como o são os países do Sudeste Asiático. Um ajuste chinês que favoreça o mercado doméstico nos é conveniente.

A ascensão chinesa mostrará a inadequação de Bretton Woods. Um nova arquitetura virá e o dólar terá um papel muito diferente. Se isso virá a favorecer o Brasil é uma questão em aberto. Dependerá como os chineses enxergarão seus interesses. Mas esse é um ponto para um futuro não muito próximo.

PROFESSOR DA FGV/ EAESP