Título: G-20 muda para G-Zero e vira área de conflito, afirma Roubini
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2011, Economia, p. B1

Economista que previu crise global diz em artigo que EUA não lideram mais o planeta e que falta um substituto

O G-20, que nos últimos anos passou a ser visto como o grupo representante das nações líderes no planeta, deve se converter "em uma arena de conflito, e não do compromisso". A avaliação é do economista Nouriel Roubini, respeitado por ter previsto a crise financeira internacional, e de Ian Bremmer, presidente da consultoria de risco político Eurasia, a maior dos Estados Unidos.

Em artigo publicado conjuntamente ontem na revista "Foreign Affairs", considerada a mais influente na área de relações internacionais, Roubini e Bremmer afirmam que depois da "crise financeira, os Estados Unidos não são mais os líderes da economia global e nenhuma outra nação tem a mesma influência para substituir" os americanos.

Com o título de "G-Zero World", Roubini e Bremmer afirmam no artigo que, "nos últimos meses, o grupo das economias líderes (G-20) deixou de ser um concerto de nações para se transformar em uma cacofonia de vozes competindo entre si". Tampouco dá para pensar em G-2, envolvendo a China e os EUA, segundo o economista e o analista de risco político. "Pequim não tem interesse em aceitar o peso que vem acoplado com a liderança internacional", dizem.

Os autores explicam ainda como as antigas potências ocidentais decaíram e hoje perderam a capacidade de influenciar o resto do mundo. "No passado, os EUA podiam usar a sua força econômica e militar global para forçar a cooperação global, mas hoje não possuem mais os recursos para manter esta posição."

Salvação. "A Europa está totalmente ocupada tentando salvar a zona do euro. E o Japão enfrenta graves problemas econômicos e políticos domésticos", afirmam Bremmer e Roubini, que é professor da Universidade de Nova York.

Segundo os analistas, não há mais soluções para os desafios globais sem o envolvimento de forças emergentes "como o Brasil, a China e a Índia". "Mas estes países estão focados em desenvolvimento doméstico para querer ter responsabilidades externas", explicam.

Para Roubini e Bremmer, "nós vivemos no mundo do G-Zero, onde nenhum país ou bloco de países tem a influência política ou econômica para comandar a agenda internacional. O resultado será a intensificação de conflitos globais sobre assuntos importantes como a coordenação macroeconômica internacional, reforma das regulamentações financeiras, políticas de comércio exterior e mudanças climáticas". Como um dos exemplos, eles citam a irritação do Brasil com os programas de subsídios americanos para a agricultura.

"O consenso de Washington está morto, mas nunca teremos um consenso de Pequim", dizem os dois. Para concluir, afirmam que "a era do G-Zero produzirá muito mais conflito do que qualquer coisa que se assemelhe a Bretton Woods", numa referência ao acordo no fim da Segunda Guerra para estabelecer a nova ordem financeira internacional.