Título: Mais distante da meta
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2011, Economia, p. B1

A alta de 0,83% do IPCA em janeiro já era esperada ante as pressões de preços localizadas constatadas com alguma antecipação. De um lado, a alta do grupo alimentação já era esperada ante as intensas chuvas no fim de 2010 e no começo de 2011, que afetaram a produção e a distribuição em diferentes regiões. De outro, a alta da tarifa do ônibus urbano em várias cidades influenciou o comportamento do grupo transportes. Do total da variação do índice em janeiro, esses dois grupos contribuíram com 0,56 ponto porcentual.

Ainda que a alta de preços de alimentos seja transitória e a dos preços das passagens de ônibus não seja recorrente, não é possível dizer que não existem preocupações com a inflação no Brasil.

Em fevereiro, os preços dos alimentos ainda deverão exercer alguma pressão sobre a inflação. Aliado a esse fenômeno, o grupo educação deverá ter alta significativa em razão da sazonalidade do reajuste de matrículas e mensalidades. No entanto, espera-se que a partir de março/abril as variações do IPCA sejam mais moderadas, e é possível que em meados do ano sejam mais baixas, podendo, a exemplo de 2010, ficar próximas a zero.

Nesse contexto, espera-se que a política monetária seja pautada por um horizonte de médio e de longo prazos em suas decisões. Em 2010, o Banco Central pareceu ficar alarmado com a inflação alta do começo do ano e, aparentemente, foi surpreendido com a inflação próxima a zero entre junho e agosto. Isso conferiu um caráter errático no processo de condução e na comunicação do BC em termos de política monetária no ano passado.

Sob essa perspectiva, é importante mencionar que ajustes já foram feitos pelo BC e novos deverão ser realizados ainda no primeiro semestre. Espera-se que esse processo de ajuste prossiga sem sobressaltos ou surpresas.

É PROFESSOR DE ECONOMIA DA FGV