Título: Inflação faz China elevar juro pela terceira vez
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2011, Economia, p. B9

A alta foi de 0,25 ponto porcentual, o que aumentou os juros básicos para empréstimos de um ano a 6,06%; remuneração de depósitos foi a 3%

A China aumentou ontem a taxa de juros pela terceira vez desde outubro, em mais um movimento para tentar conter a inflação, que deverá começar o ano acima de 5% - o índice oficial de janeiro será divulgado na próxima semana.

A alta foi de 0,25 ponto percentual, o que elevou os juros básicos para empréstimos de um ano a 6,06%. A remuneração de depósitos com mesmo prazo subiu para 3%, o que representa uma taxa real negativa, considerando-se a expectativa de inflação de pelo menos 4% em 2011.

As autoridades chinesas se equilibram entre os desafios de manter o crescimento econômico e evitar um descontrole de preços que ameace a estabilidade social do país. Em 2010, a inflação superou a meta oficial de 3% e fechou o ano em 3,3%, empurrada principalmente pela alta dos alimentos, que atingiu 7,2%.

Depois de desacelerar no terceiro trimestre de 2010 para 9,6%, o ritmo de expansão do PIB voltou a aumentar no período de outubro a dezembro, para 9,8%, apesar das medidas de contenção adotadas por Pequim. O resultado foi um crescimento anual de 10,3%, o maior desde 2007, ano que antecedeu a explosão da crise financeira global.

Além da inflação, o maior problema para o governo é a alta do preço dos imóveis, alimentada pelo excesso de dinheiro em circulação na economia. Nos últimos dois anos, a base monetária chinesa aumentou em 50% e parte desses recursos foi canalizada para compra de apartamentos, casas e escritórios.

A expansão da oferta de dinheiro também empurrou os empréstimos bancários para além da meta oficial de 7,5 trilhões de yuans (US$ 1,1 trilhão) fixada pelo governo para o ano passado. Os financiamentos aumentaram em 7,95 trilhões yuans (US$ 1,2 trilhão) e sustentaram o boom de investimentos em obras imobiliárias e de infraestrutura.

Dados não oficiais indicam que só em janeiro a expansão de crédito pode ter sido de 1,2 trilhão de yuans (US$ 183 bilhões). O número é alto no início do ano, mas esse patamar coloca em risco o objetivo do governo de conter o crescimento e reduzir o total de novos financiamentos em 2011 para cerca de 7 trilhões de yuans (US$ 1,0 trilhão).

Na mensagem de celebração do Ano Novo Chinês, divulgada na semana passada, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, afirmou que as prioridades do governo em 2011 serão o combate à inflação e o controle da especulação no setor imobiliário.

Em todo o mundo, investidores temem que as medidas de contenção adotadas por Pequim resultem em uma redução drástica no crescimento, distante do pouso suave que desejaria. A maioria dos analistas acredita que o ritmo de expansão será menor que o de 2010, mas continuará alto, na casa dos 9%.

A expectativa é de que os juros subam mais três vezes até o fim do ano e que o banco central continue a reduzir a oferta de dinheiro por meio do aumento do depósito compulsório dos bancos - que na prática reduz os recursos disponíveis para empréstimos. O que pode atrapalhar esse cenário é o eventual descontrole inflacionário ou o crescimento da bolha que muitos já percebem se formando no setor imobiliário.

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