Título: BC divulgou dados parciais do crédito para reverter pessimismo
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2011, Economia, p. B6

A divulgação de dados parciais do mercado de crédito pelo Banco Central ontem deve ser lida como parte do esforço da autoridade monetária em reverter o pessimismo sobre a trajetória da inflação que tomou conta do mercado financeiro.

Com as projeções dos analistas de bancos e consultorias para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda subindo (algumas já apontam mais de 6% para este ano), o BC tenta chamar a atenção do mercado para o impacto, em termos de desaceleração da atividade econômica e de combate à inflação, das ações de aperto no crédito adotadas em dezembro.

E, para isso, aproveitou a divulgação do boletim regional trimestral em Salvador para informar os números parciais do mercado de crédito.

Essa intenção fica mais clara diante do fato de que o BC, ao avisar a imprensa sobre a divulgação do boletim regional, fez questão de deixar claro que os dados nacionais do crédito também seriam divulgados. Isto por si só já foi suficiente para deixar o mercado mais atento ao evento.

A generosa oferta de empréstimos vinha sendo elemento fundamental na trajetória de intensa expansão do consumo das famílias, junto com o emprego e a renda (turbinada não só pelo aquecido mercado de trabalho, mas também pelos aumentos reais no salário mínimo e pelos programas de transferência de renda).

Com o crédito rareando em duas de suas principais modalidades (crédito pessoal e veículos), o consumo tende a arrefecer, acredita o BC, e o mercado deveria levar isso em conta em suas projeções de inflação.

Obviamente, a autoridade monetária não considera que o torniquete no crédito e o enxugamento de dinheiro na economia são suficientes para frear suficientemente a economia e colocar a inflação nos eixos. Por isso, já começou a subir os juros.

A mensagem subliminar do Banco Central, entretanto, é que, com o mercado de financiamentos já claramente mais apertado pelas medidas macroprudenciais e uma promessa de ajuste fiscal, reforçado pelo anúncio de corte de R$ 50 bilhões, a dosagem de taxa Selic para colocar o IPCA na trajetória da meta de 4,5% não precisa ser tão grande quanto os mais ortodoxos do mercado defendem.