Título: Em 2012, concluímos a transição digital
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/02/2011, Economia, p. B14

Presidente da Kodak planeja ampliar presença no Brasil, incluindo atividades de pesquisa e desenvolvimento

O espanhol Antonio Perez assumiu o comando da Kodak em 2003, para liderar sua transição dos filmes para o mundo digital. O desafio não é simples. Desde 2004, a empresa apresentou lucro anual somente uma vez, em 2007.

"A transição termina em 2012", disse Perez, que visitou o Brasil na semana passada. A empresa monta câmeras digitais no País, está instalando uma fábrica local de chapas digitais offset e prepara novos investimentos, que incluem atividades de pesquisa e desenvolvimento. A seguir, trechos da entrevista.

Por que o senhor decidiu aumentar a presença no Brasil?

Faz muitos anos que as companhias americanas e europeias falam da importância crescente das economias emergentes. A crise que aconteceu em 2008 e 2009 foi como um alarme. A conclusão não foi de que as economias emergentes um dia serão importantes, mas que são importantes hoje. A percepção disso mudou muito a estratégia das empresas, incluindo a Kodak. Temos recursos investidos na Europa e nos Estados Unidos, e a maioria dos nossos clientes está em outros lugares. É um problema muito grave. Em 2009, propus ao conselho de administração da Kodak mudar a estrutura de investimento da empresa e fazê-lo de uma maneira rápida.

Qual é a importância do País para a Kodak?

No fim do ano passado, 40% do faturamento da Kodak vinham dos Estados Unidos, 30% da Europa Ocidental e outros 30% da combinação da América Latina, Ásia e Leste da Europa. Essa relação está mudando de uma maneira muito rápida. No final deste ano, a importância relativa das economias emergentes será muito maior que 30%. O Brasil cresceu mais de 50%. Vamos investir em fabricação durante este ano, para alguns dos produtos mais importantes, como as placas digitais. Mas não vamos para por aí. Virão mais investimentos.

Como o crescimento brasileiro se compara a de outros países emergentes?

Os 50% são os mais altos. Existem países da Ásia em que temos crescido de 35% a 40%. Além disso, o Brasil está em um estado de graça. Vai receber a Copa do Mundo e os jogos olímpicos. Além de seu crescimento natural, que já é muito importante, estão esses eventos que vão multiplicar a capacidade de crescimento do Brasil.

Quanto a Kodak planeja investir no Brasil?

Não podemos divulgar. O mais importante é que estamos transferindo recursos dos EUA e da Europa para os países emergentes. Dentro da área da América Latina, o Brasil é nosso centro estratégico. Estamos pensando em colocar recursos aqui não somente para o Brasil, mas para exportação.

Como está a transição digital da Kodak?

Ainda leva de um ano a um ano e meio para que a companhia seja completamente digital. A Kodak começou tarde a transição, mas estamos indo muito rápido. Sempre tivemos uma atividade de pesquisa e desenvolvimento muito forte, com patentes fundamentais no mundo digital. Provavelmente você sabe que inventamos a primeira câmera digital e muitas das tecnologias de impressão e de gerenciamento de cores. Registramos mais patentes a cada ano. Nosso objetivo é ser a empresa número um no mundo gráfico.

Qual é o peso do mercado de consumo para a Kodak?

Essa é outra parte da transformação. A companhia era, até 2003, 90% B2C (vendendo para consumidores). Hoje, é uns 70% B2B (vendendo para outras empresas). Mas os outros 30% continuam importantes para nós.

Qual é o impacto dos celulares, que têm câmeras cada vez melhores, nesse mercado?

As fotografias tiradas sem pensar, no momento, serão tiradas com dispositivos multifuncionais. Para os momentos especiais da vida, como aniversários, será usada uma câmera mais definida, que sempre tirará melhores fotos. Não importa se as fotos são tiradas com o celular, porque é preciso fazer algo com essas fotos. Elas precisam ser distribuídas. Para os consumidores, temos quiosques, que não fazem somente fotos no formato 4x6, mas livros de fotos e CDs. Eles oferecem a possibilidade combinar música com foto em um slide show. Temos benefício de todos os produtos que saem da fotografia, não somente das câmeras digitais.

Quando vem o resultado financeiro da transição digital?

Estamos investindo muito e começamos 11 negócios digitais novos, com uma estratégia muito agressiva. Investir em 11 negócios novos tem seus riscos, porque se investe muito em pouco tempo. Dois dos maiores investimentos, que são as impressoras inkjets para consumidores e as inkjets comerciais, que com certeza serão os maiores negócios que teremos na empresa, seguem negativos. Só passarão a gerar lucro no ano de 2012 e no ano 2013. Por isso, estamos dizendo, há cinco ou seis anos, que a transformação acaba em 2012. Além disso, a Kodak tem, como todas empresas americanas antigas, gastos muito altos para suportar os aposentados. Como você sabe, nos EUA, todos os gastos da previdência são pagos pela empresa. Não é como o Brasil ou a Europa. Temos a obrigação moral de suportar mais de 40 mil aposentados que temos nos EUA. Estamos orgulhosos deles, mas é um gasto. Temos que crescer muito rapidamente a parte digital para cobrir esses gastos.

A expectativa é voltar ao lucro no ano que vem?

Sim. 2012 já será positivo. Daí para frente, o resultado crescerá de maneira exponencial. Uma coisa importante sobre o faturamento da Kodak é que, para 2012, 60% virão de consumíveis e serviços associados à base instalada. É muito seguro, porque todos os equipamentos vendidos nos últimos cinco anos continuam a precisar de consumíveis e de serviços.