Título: Emprego industrial tem alta recorde
Autor: Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2011, Economia, p. B8

Apesar da estagnação em dezembro, contratações avançaram 3,4% em 2010, o maior crescimento da série do IBGE, iniciada em 2002

O emprego na indústria avançou 3,4% em 2010, a maior alta da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) desde 2002. Apesar do recorde, o indicador ficou estagnado no fim do ano. Recuou 0,1% em dezembro, na comparação com o mês anterior, após três meses de estabilidade.

Concentrado no primeiro semestre, o crescimento das vagas na indústria colecionava sete meses seguidos de alta em agosto, quando desacelerou. O desempenho segue a dinâmica da produção industrial, que cresceu 10,5% no ano passado, mas caiu 0,7% no último mês do ano.

O gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo, concorda que o emprego na indústria, o mais qualificado na economia, começa o ano em condições bem diferentes das de 2010, quando o indicador recebeu o impulso da recuperação da produção no final de 2009. "São cenários diferentes. No fim de 2009, a indústria estava sob impacto de incentivos, como a redução de IPI para carros e eletrodomésticos de linha branca. Agora, não há esse impulso. O emprego vai depender do ritmo da produção industrial em 2011. Temos de aguardar como vai se comportar."

Macedo avalia que a taxa recorde de 2010 reflete a recuperação gradual do pessoal assalariado ocupado nas fábricas ao longo do ano, depois da queda de 5% em 2009 em meio à crise internacional, mas também foi influenciada pela baixa base de comparação. "É uma combinação dos dois fatores. A leitura é muito parecida com a da produção industrial. Embora a produção tenha superado o patamar anterior à crise em março do ano passado, o emprego industrial ainda está 1,7% abaixo do nível de setembro de 2008", afirmou Macedo, que destacou o avanço em todos os 14 locais pesquisados e em 13 dos 18 segmentos investigados. Lideraram metalurgia básica (7,7%) e bens de capital (7,3%).

O economista explicou que é natural o emprego não seguir a evolução da produção na mesma proporção, já que o custo de contratação pode fazer com que os empresários adiem o aumento de pessoal diante da retomada do ritmo para aumentar a produtividade.

Horas extras. A alta de 4,1% no número de horas pagas em 2010, após a queda de 5,3% em 2009, pode indicar a manutenção das contratações na indústria. A alta reflete um crescimento das horas extras, principalmente nos segmentos de bens de capital (11,3%), produtos de metal (10,6%) e eletroeletrônicos (9,8%).

Diferentemente das vagas, as horas pagas não desaceleraram no final do ano. Tiveram alta de 0,3% e 0,4% em novembro e dezembro, respectivamente. "Esse indicador reflete maior número de horas extras na indústria e pode servir como um antecedente de futuras contratações", avaliou Macedo.

O técnico do IBGE também destacou o crescimento de 6,8% na folha de pagamento real das fábricas, que reflete aumento da renda e do pagamento de participação nos lucros. Em 2009, houve queda de 5,3%. No entanto, o indicador apresentou queda de 1,7% no último trimestre de 2010, frente ao imediatamente anterior, após 12 meses consecutivos de crescimento. / COLABOROU ALESSANDRA SARAIVA