Título: Não se joga uma pessoa aos leões sem provas
Autor: Auler, Marcelo ; Vieira, Márcia
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2011, Metrópóle, p. C3

Ele vai manter o chefe da Polícia Civil, mas adiantou que estará "atento ao doutor Allan" nas próximas ações

O secretário de segurança do Rio, José Mariano Beltrame, disse ontem que vai manter Allan Turnowski no cargo de chefe da Polícia Civil. "Estou atento ao doutor Allan", afirmou. "Mas não se joga uma pessoa aos leões sem provas. Ele faz um bom trabalho na polícia e deu depoimento seguro na Polícia Federal." Beltrame definiu a operação como "capítulo feio", mas necessário. "Não vamos fazer polícia prestadora de serviço com esse tipo de gente dentro. E temos de continuar."

O senhor ainda confia no chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski?

Todos nós podemos ser vítimas de acusações. Hoje é ele. Preciso de um mínimo de provas para tomar uma atitude. Ele esteve comigo, foi muito seguro. Deu uma grande ajuda, sem ser informado de que havia uma operação investigando policiais. Quando o Ministério Público de Macaé conseguiu um mandado de prisão contra um dos réus, que virou testemunha, chamei o doutor Allan aqui e disse que queria a prisão dessa pessoa. Ele prendeu a testemunha-chave. Trouxe ela viva, em segurança. Mas estou muito atento ao doutor Allan. Esse (apontando para um olho) é irmão desse. A qualquer hora posso chegar para ele e dizer: isso você poderia ter feito diferente.

Por que não fez? Prender a testemunha-chave foi uma demonstração de que ele é confiável?

Foi uma demonstração de competência. Missão dada é missão cumprida. A gente tem confiança, mas precisa de alguma coisa sólida para tomar uma atitude, sob pena de em um momento desses jogar a pessoa aos leões. Estou acompanhando os depoimentos. No primeiro indício de qualquer coisa comprometedora, tomo providência.

Enfrentar polícia é muito pior do que enfrentar bandido?

Não tenha dúvidas. Não tomo susto com polícia e com segurança pública. Conheço essas instituições desde 2003. Não tem mais nada que me apavore nessas instituições. Se me apavorasse, não meteria a mão onde eu meto. Eu não poderia ficar aqui cinco, seis anos e não mexer nisso. Uma situação dessas me deixa mal, mas eu prometi que ia fazer e fiz. Eu estou pronto para tocar.

O fato de vários policiais presos serem da área da Penha indica que eles podem ter ajudado os chefes do tráfico do Complexo do Alemão e da Vila Cruzeiro a fugirem das favela no cerco das forças de segurança em novembro passado?

Eu não duvido. Não conheço o teor todo da investigação. Essas coisas, se existirem, vão ser reveladas.

Foi difícil manter o delegado Carlos Alberto Oliveira na polícia mesmo sabendo das provas contra ele?

Foi muito ruim. A gente tinha um depoimento que citava ele. Mas pode ter pé de pato, bico de pato e ser um ornitorrinco. Tem de ter prova para sustentar as acusações na frente de um juiz. Eu disse ao pessoal: "Não mexa nele, mas acompanha tudo, controla." Eu prefiro segurar e consolidar. Como diz o gaúcho: "Tá agarrado."