Título: Retomada deve elevar juros nos países ricos
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2011, Economia, p. B1

Situação pode ampliar a migração de capitais hoje aplicados em emergentes

A retomada de crescimento dos países desenvolvidos deve elevar as taxas de juros nessas praças, aumentando o poder de sedução sobre o investidor internacional. Sempre que há uma mudança na política monetária das nações desenvolvidas, os investidores globais se reposicionam - em geral, saindo dos emergentes em direção aos ricos, movimento que afeta diretamente o Brasil.

Para a diretora-geral da Fator Administração de Recursos, Roseli Machado, as estimativas de crescimento de Estados Unidos e Alemanha vêm melhorando sistematicamente. Para os EUA, a média do mercado já projeta expansão acima de 4%. Para a Alemanha, os especialistas falam em mais de 3,5%.

Por isso, cada vez mais analistas avaliam que as taxas de juros terão de ser elevadas nesses países (no caso da Alemanha, região, pois o país integra a zona do euro, sob supervisão do Banco Central Europeu).

Essa visão de que o juro vai subir mais cedo do que o esperado nos países desenvolvidos ganha ainda mais força quando se olha a evolução da inflação em lugares como a Inglaterra. Lá, os índices de preços ao consumidor oscilam na faixa de 3,5% ao ano, muito acima da meta de 2%.

A aposta é de que a elevação do juro básico não deve passar de maio. Integrantes do Banco Central Europeu também vêm mostrando desconforto com a alta dos preços, o que leva muitos especialistas a projetar uma subida do juro no segundo semestre.

"Talvez haja algum exagero nesse otimismo, sobretudo com os Estados Unidos. Mas o fato é que o mercado já está antecipando essas mudanças", diz o estrategista do banco WestLB no Brasil, Roberto Padovani.

Para ele, uma das consequências desse novo cenário será a estabilidade da taxa de câmbio em 2011. Hoje, ele prevê um dólar a R$ 1,68 em dezembro. Na sexta-feira, a moeda americana valia R$ 1,66.

"A provável alta dos juros nos países desenvolvidos levará mais capital para lá e deve provocar uma queda nos preços das commodities. Ambos são fatores negativos para o real", diz Padovani. "No entanto, como o Brasil continuará atraindo capitais para investimentos (em infraestrutura, por exemplo), o resultado líquido dessas duas forças deve ser a estabilidade da moeda brasileira."

Renda fixa. Se as incertezas levaram volatilidade aos mercados acionários, o mesmo não pode ser dito em relação às aplicações em renda fixa (títulos remunerados de acordo com a taxa de juros).

"Não estamos vendo saída de dinheiro em renda fixa, a despeito das medidas do governo para conter a alta do real", diz o diretor de Tesouraria do banco Santander no Brasil, Roberto de Oliveira Campos.

O juro brasileiro é o mais alto do mundo hoje - 11,25% ao ano - e deve manter-se nessa posição, pois o Banco Central (BC) já indicou novas altas nos próximos meses. A média do mercado vê a taxa básica (Selic) em 12,50% em dezembro.