Título: Mercado não sente firmeza das autoridades
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2011, Economia, p. B1

Armando Castelar, economista do Ibre,

Armando Castelar, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acha que as expectativas inflacionárias sobem porque falta firmeza das autoridades econômicas no combate à inflação.

Por que a expectativa de inflação continua a subir?

Em primeiro lugar, o Banco Central (BC) está atrás da curva. Há uma visão de que o BC, mesmo subindo os juros, demorou, se atrasou. Como a inflação está aumentando, a alta da Selic (taxa básica) está acomodando esta inflação mais alta. Com a Selic a 11,25%, se for descontado 6% de inflação (anualizada), continuamos com 5% de juros reais. É superbaixo em comparação a um juro neutro (que não acelera nem desacelera a economia), da ordem de 7%. Está, portanto, em 5%, e, para trazer a inflação para baixo, tem de passar do juro neutro.

Mas e o corte do Orçamento?

O que se comentou no mercado é que o corte não é suficiente para dar o número (meta de 2,9% do PIB de superávit primário), e que faltou um detalhamento maior. A visão é que tem de esperar para ver. É bom não esquecer que o governo já falou no passado que cumpriria a meta e acabou não cumprindo. Só o anúncio de pacote não reduz a inflação. O que reduz é começar a cortar. E, na verdade, não existe corte - a despesa real continuará aumentando.

Quais as principais forças inflacionárias hoje?

O mercado de trabalho está apertado, e acabou uma contribuição importante à política monetária em 2010, que é o fato de que o País importou deflação. A valorização do câmbio também foi importante (para conter as pressões inflacionárias), e agora o governo não quer mais deixar o câmbio se valorizar. Isso se deve a outras razões, que não estou questionando. E as expectativas dos agentes estão mudando. Saiu uma matéria do Estadão no domingo que mostrou como está aumentando a indexação informal numa série de setores. A frequência de notícias sobre a inflação na televisão e nos jornais aumentou enormemente. Isso se espalha pelos agentes econômicos e as expectativas vão mudando.

E para trazer de volta a inflação para o centro da meta, de 4,5%?

Fica mais difícil à medida que as expectativas vão sendo contaminadas, como estão sendo. O que possivelmente o mercado está dizendo com essas subidas (das expectativa de inflação) é que não sente firmeza das autoridades, de maneira geral, de trazer isso rápido para baixo.

As medidas macroprudenciais não podem suprir a insuficiência da política fiscal e monetária?

Depende da magnitude. O que foi feito ajuda, mas eu acho que não é suficiente. É focado em setores, como o de automóveis, que é importante, mas há uma inflação de serviços grande. A minha visão é de que ajuda, mas continua necessário um aperto maior.