Título: Obama propõe orçamento com déficit de US$ 1,1 tri
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/02/2011, Economia, p. B13

Cortes de gastos sugeridos pelo presidente dos EUA foram considerados ''nada sérios''

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, iniciou uma nova guerra política ao apresentar no Congresso uma proposta de orçamento para 2012 com a previsão de déficit fiscal nominal de US$ 1,1 trilhão no ano e cortes de gastos públicos considerados "nada sérios e irresponsáveis" pela oposição republicana.

A cifra corresponde a 7% do Produto Interno Bruto (PIB) americano e inclui os gastos com a dívida interna, segundo as estimativas do Escritório de Orçamento e Administração da Casa Branca. Proposta já elaborada pela Câmara dos Deputados, de maioria republicana, prevê um corte mais agressivo nos gastos públicos, especialmente nos programas sociais.

"Com este orçamento, estamos dando um sinal de pagamento. Mas haverá mais trabalho a ser feito, o que vai requerer democratas e republicanos atuando juntos", afirmou Obama ao apresentar a proposta na sala de aula de uma escola secundária de Baltimore, Maryland. O orçamento será discutido por um Congresso já envolvido na disputa presidencial do ano que vem, Obama também propôs a redução do déficit em US$ 1,1 trilhão nos próximos dez anos.

As 197 páginas da proposta têm como premissa o crescimento real médio de 3,6% no PIB em 2012. Preveem ainda déficit nominal em uma média anual de 3,7% do PIB no mesmo período, o que significa de US$ 607 bilhões a US$ 1,1 trilhão.

Com uma dívida pública de US$ 14,1 trilhões - quase 100% do PIB -, a economia dos EUA tem hoje nas contas públicas o mais grave problema. Especialmente, pelo fato de ter alcançado esse recorde em um período de baixo crescimento e desemprego elevado, de 9% em janeiro.

Nas contas apresentadas ontem ao Congresso, a receita de 2012 somará US$ 2,609 trilhões - aumento nominal de 20% na comparação com este ano, sem novos impostos. As despesas cairão apenas 1,9% e chegarão a US$ 3,699 trilhões. O resultado primário das contas públicas, indicador que exclui o pagamento de juros da dívida, será negativo em US$ 850 bilhões. O ano fiscal de 2012 começará no próximo 1.º de outubro.

Visão fantasiosa. O principal desafio da Casa Branca será convencer os republicanos a aceitar o total de US$ 3,699 trilhões em despesas para 2012. "O orçamento do presidente vai destruir empregos por gastar demais, cobrar demasiado imposto e tomar mais empréstimos", disse o republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados.

"Isso não é um orçamento que traz uma verdade mensagem. Não é nada sério, é irresponsável. É um plano que fará nossas crianças pagar por uma visão fantasiosa do futuro, que pode ou não se realizar", completou o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell.

Na proposta, Obama reduz os gastos com segurança em 1,1% e preserva ao máximo os programas sociais mandatórios, hoje responsáveis por 60% dos gastos públicos. A assistência social, na verdade, terá um aumento de despesas de 4,46%. Os programas de saúde para os mais pobres e aposentados serão cortados em US$ 68 bilhões em 2012.

Para os republicanos, é muito pouco. A oposição quer um recuo de US$ 61 bilhões nessas despesas ainda em 2011. Para 2012, pretende diminuir até mesmo as verbas do programa de educação e saúde para crianças de baixa renda, em US$ 3 bilhões, e os subsídios a obras de infraestrutura e ao setor de energia limpa

Para 2011, cujo orçamento não foi aprovado até agora, a previsão é de déficit primário mais robusto, de US$ 1,392 trilhão. O resultado nominal alcançará US$ 1,6 trilhão, cifra equivalente a 10,9% do PIB americano. Essas contas dependem de um arranjo entre a Casa Branca e o Congresso até 4 de março. Passado o prazo, o governo Obama não poderá dispor de recursos públicos.