Título: Gestão profissional é a solução para os portos brasileiros
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/02/2011, Economia, p. B11

Segundo especialistas, é preciso criar modelo para profissionalizar a administração e reduzir a interferência política

A saída para moralizar os portos brasileiros é criar um modelo de profissionalização da administração portuária. Essa é a opinião de especialistas e representantes do setor produtivo, que convivem diariamente com problemas para transportar cargas pelo mar. Na avaliação deles, uma das primeiras medidas nesse caminho é reduzir a interferência política dentro das autoridades portuárias.

Hoje, quase todos os executivos que comandam as companhias docas são indicações políticas. A cada quatro anos - às vezes bem menos que isso - os nomes são trocados, conforme a conveniência de ministros e partidos. Mas o principal problema é que os indicados, na maioria dos casos, não têm conhecimento das peculiaridades do setor. "Quando começam a entender, eles já são trocados", observa o presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP), Wilen Manteli.

Além de eliminar qualquer tipo de planejamento, já que a cada troca de dirigente as ideias e projetos também mudam, esse tipo de administração - não profissional - dá margens a escândalos e corrupção. "São organizações passíveis de serem manipuladas. Não têm dono, não tem conselho, não tem acionista, não tem quem cobre resultados e não tem quem fiscalize direito", afirma Nelson Carlini, ex-presidente da companhia marítima CMA CGM.

Eficiência. Na opinião dele, a melhor alternativa para o Brasil seria uma gestão portuária profissional e privada: "O objetivo de uma empresa privada é buscar os melhores retornos e eficiência. É o que os portos brasileiros precisam para alcançar um novo patamar." Carlini destaca que os maiores e mais modernos portos do mundo seguem um modelo de gestão profissional, que tem surtido efeitos surpreendentes, como são os casos dos portos de Roterdã, na Holanda, e Nova Orleans (EUA).

A presidente da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Agnes Dagmar de Vasconcellos, também acredita que uma gestão profissional seja capaz de reduzir as fraudes e irregularidades nos portos brasileiros.

Na avaliação dela, a indicação de uma pessoa para o cargo de dirigente de uma administração portuária deveria ser referendado por um conselho, como ocorre em outros países. A executiva lembra que hoje o País já tem o Conselho de Autoridade Portuária (CAP), mas os indicados não passam por ele. "Com a profissionalização, teríamos pessoas mais comprometidas com a produtividade dos portos.".