Título: Washington congela US$ 30 bi em ativos da Líbia e de ditador
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2011, Internacional, p. A10

Governo americano ainda afirma que é "prematuro" falar em intervenção militar contra regime de ditador líbio

Os EUA congelaram ontem US$ 30 bilhões em ativos do governo líbio e da família de Muamar Kadafi, como parte das sanções unilaterais aplicadas na sexta-feira pela Casa Branca. A iniciativa foi acompanhada por duas mensagens da embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice. Primeiro, apesar de ter enviado suas tropas ao Mediterrâneo, o governo americano considera "prematuro falar em intervenção militar". Segundo, a transição política líbia não se dará sob interferência de Washington.

"Caberá aos líbios (substituir o governo Kadafi). Os EUA esperam ver emergir um governo que respeite os clamores de seu povo e seus direitos universais", afirmou. "Não vamos fazer uma cartilha sobre a transformação política da Líbia. O povo líbio deve escolher seu líder e pôr fim à repressão e à violência", completou Rice, na Casa Branca.

A embaixadora anunciou essa posição logo ao final de um encontro entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e do bloqueio dos ativos de Mubarak. Conforme ela relatou, Obama e Ban concentraram-se na ajuda humanitária à Líbia, como meio de também permitir a transição política. Ban mostrou-se especialmente preocupado com a assistência médica e o envio de remédios ao país.

Mas, à imprensa, Rice voltou à questão de fundo: a necessidade de "manter a pressão" unilateral e da comunidade internacional sobre o "enganador" Kadafi. Novas sanções podem vir a ser aplicadas. Mas, segundo a embaixadora, ainda não foi cogitado o embargo multilateral à compra de petróleo da Líbia. "O Conselho de Segurança continua a observar atentamente a evolução desse quadro", afirmou. Ela destacou como positivo o fato de o CS ter votado com unanimidade pela imposição de sanções à Líbia no sábado e pela denúncia da violência cometida pelo governo de Kadafi contra manifestantes desarmados ao Tribunal Penal Internacional. O congelamento de US$ 30 bilhões, uma parte das sanções unilaterais americanas, não tem precedente, destacou ela.

Segundo o subsecretário do Tesouro americano para terrorismo de inteligência financeira, David Cohen, esse foi o maior valor de uma instituição estrangeira congelado pelos EUA. O bloqueio foi aplicado por instituições financeiras americanas, que passaram o final de semana investigando os ativos do governo líbio e da família Kadafi. Autoridades americanas acreditam que há maior volume de ativos como esses na Europa.

Crimes. O procurador do TPI, Luis Moreno-Ocampo, disse que os ataques militares contra civis na Líbia poderiam ser enquadrados como crimes contra a humanidade. Ele ordenou uma ampla investigação sobre o caso, depois que o CS da ONU impôs sanções contra o líder líbio e encaminhou ao TPI a questão da repressão do governo. / COLABOROU JAMIL CHADE