Título: Todo meu povo me ama, declara ditador em entrevista
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2011, Internacional, p. A10

Ditador volta a acusar a Al-Qaeda pelos protestos na Líbia e diz que suas forças receberam ordens de ''não abrir fogo''

Em entrevista às redes BBC e NBC, o ditador da Líbia, Muamar Kadafi, negou haver uma rebelião no país promovida por opositores líbios: "Todo meu povo me ama". Segundo Kadafi, os "protestos" que ocorreram foram promovidos pela Al-Qaeda.

Segundo o ditador, a população líbia "morreria" para protegê-lo. Ele voltou a dizer que não pode deixar o poder porque simplesmente não ocupa formalmente nenhum cargo.

Kadafi soltou uma risada ao ser questionado se planejava deixar a Líbia. Ele disse que se sente "traído" por governantes europeus e americanos que antes o apoiavam e agora exigem que ele deixe o poder.

Questionado sobre a violência generalizada na repressão a protestos inicialmente pacíficos, o ditador líbio afirmou que "rebeldes drogados que apoiam a Al-Qaeda" roubaram armas das Forças Armadas. Os soldados do regime "estão sob ordens de não disparar contra eles", completou Kadafi.

Sobre as acusações de que o líder líbio mantém bilhões de dólares no exterior, desta vez reiteradas pelo primeiro-ministro britânico, David Cameron, Kadafi negou veementemente e disse que colocará "dois dedos nos olhos" do premiê de Londres.

Delírio. Horas depois da transmissão da entrevista, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, disse que o ditador líbio "delirava" e "não tinha capacidade de liderar" o país. Os EUA pressionam para que Kadafi seja julgado por crimes de guerra no Tribunal Penal Internacional (TPI) - embora Washington pressione para que a Corte seja incapaz de julgar americanos que cometem crimes contra a humanidade.

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, acusou Kadafi de usar "mercenários e criminosos" na repressão aos opositores.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas adotou no sábado sanções contra Trípoli. As medidas incluem embargo na venda de armas, viagens ao exterior e o congelamento de contas. A resolução foi adotada por consenso numa sessão presidida pelo Brasil. Agora, a ONU discute a expulsão da Líbia da maior parte de suas agências. A iniciativa será votada hoje na Assembleia-geral da organização, em Nova York. Para ser aprovada, deverá ter o apoio de dois terços dos países da organização.