Título: Para economistas, desaceleração da atividade começou
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2011, Economia, p. B3

Crédito, consumo e mercado de trabalho mostram retração, mas analistas divergem sobre ritmo do recuo

A economia brasileira já começou a desacelerar, respondendo ao encarecimento dos alimentos, às medidas restritivas adotadas pelo Banco Central e à alta dos juros. Segundo economistas ouvidos pelo Estado, dados de crédito, consumo e mercado de trabalho evidenciam o menor ritmo da atividade econômica.

O consenso, no entanto, termina por aqui. Alguns dizem que a desaceleração já é suficiente para afetar os rumos da política monetária, enquanto outros afirmam que o BC arrisca perder o controle da inflação se fraquejar na alta de juros.

"É importante que a política monetária seja implementada. Se o BC hesitar, a desaceleração pode ser transitória", diz Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco "Essa mudança já é suficiente para o BC não ir tão longe com a elevação dos juros", diz Braúlio Borges, economista-chefe da LCA Consultoria.

A pesquisa Focus, divulgada ontem pelo BC, aponta que o mercado reduziu sua estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2011 de 4,5% para 4,3%. Há um mês, a projeção era de 4,6%. Os analistas também cortaram o crescimento da produção industrial de 4,4% para 4,1%.

Para os economistas, um dos principais dados que já comprovam a desaceleração da atividade é o crédito à pessoa física. Por causa das medidas do BC, esse indicador caiu 0,8% em dezembro e 5% em janeiro. As comparações são com o mês imediatamente anterior, retirados os efeitos sazonais.

Um outro sinal é o mercado de trabalho. Em janeiro, o número de pessoas ocupadas foi 0,2% menor que em dezembro, a primeira queda depois de meses seguidos de alta. A taxa de desemprego também interrompeu o movimento de queda e subiu de 6% em novembro para 6,1% em dezembro e 6,3% em janeiro.

Segundo Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a indústria deverá ser a principal responsável pela desaceleração da economia. "Começou no ano passado e não vemos recuperação da indústria neste trimestre." Ele prevê uma queda de 0,5% na produção industrial em janeiro em relação a dezembro, livre de influências sazonais.

De acordo com a economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, a desaceleração, que já é evidente na indústria há meses, começa a atingir o varejo, embora de maneira incipiente. O primeiro impacto foi sentido pelos hipermercados. Com a alta das commodities, os alimentos ficaram mais caros.

Nos veículos, as vendas seguem fortes, superando o mesmo período de 2010. Mas na margem já ocorre uma queda. Segundo dados livres de influências sazonais produzidos pelo Itaú, as vendas de veículos caíram 6% em janeiro em relação a dezembro e devem recuar entre 3% a 4% em fevereiro ante janeiro.