Título: Dados do varejo ainda não refletem aperto do crédito
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2011, Economia, p. B3

Números ainda não demonstram, mas empresários já falam em desaceleração do ritmo de expansão das vendas

O aperto no crédito ainda não se refletiu nas estatísticas do varejo, mas empresários e economistas já falam em desaceleração do ritmo de crescimento das vendas em alguns segmentos. Os dados ainda são difíceis de comparar, porque fevereiro de 2010 teve carnaval e este ano tem mais dias úteis de vendas.

"Muito mais um sentimento do que propriamente os números mostram algum desaquecimento, porém leve e gradativo", diz o economista Marcel Domingos Solimeo, da Associação Comercial de São Paulo. "Mas a gente só vai ter uma visão mais clara depois do carnaval, quando os números forem comparáveis."

Para ele, a tendência é de desaceleração do ritmo das vendas, e o primeiro sinal foi a redução do prazo dos financiamentos. Lojas que ofereciam 18 meses para pagamento no cartão, agora reduziram para dez meses. "A redução do prazo eleva o valor das prestações, e isso tem impacto direto nas vendas", diz Solimeo.

Nas grandes redes de varejo de eletroeletrônicos e móveis, o ritmo da demanda não se alterou. E a tendência é de que isso demore acontecer. "Nosso ramo vai ser o último a sentir o aperto no crédito", diz um executivo de uma rede de lojas do setor, que pediu para não ser identificado. E o motivo, segundo ele, é simples.

"Temos muitas novidades, muitos produtos que são o sonho de consumo da maioria dos brasileiros, como TVs de LED, equipamentos de informática e aparelhos de alta tecnologia. Enquanto puderem, as pessoas vão consumir esses produtos. Mais lá na frente, a desaceleração vai acabar acontecendo nesse setor também", afirma o executivo.

Para os lojistas, é natural que as medidas de desaceleração da atividade econômica, tomadas pelo governo desde o fim de 2010, interferiram no consumo. "Isso não significa que as vendas vão cair ou parar de crescer, até porque a economia cresceu bastante. Simplesmente, elas vão crescer menos", diz Solimeo.