Título: Confiança da indústria cai, mas recuo não é geral
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/03/2011, Economia, p. B3

Sondagem da FGV revela comportamento heterogêneo, com reações positivas em alimentos, têxteis, calçados e metalurgia

O primeiro trimestre deste ano dificilmente será positivo para a indústria de transformação, que segue em desaceleração e deve influenciar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB). Mas ainda há muita heterogeneidade no comportamento dos diversos segmentos neste início de ano, revela a Sondagem da Indústria da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de fevereiro.

Pelo segundo mês consecutivo, tanto o Índice de Confiança da Indústria (ICI) como o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci), medidos pela sondagem, recuaram em fevereiro na comparação com o mês anterior, descontado o comportamento normal para o período.

Em fevereiro, o ICI ficou em 112,5 pontos, o menor nível desde novembro de 2009 (109,6 pontos)e acumulou retração de quase 2% no primeiro bimestre. Houve recuo de 0,7% no indicador de expectativas em fevereiro na comparação com janeiro. No entanto, o índice da situação atual ficou estável no mesmo período, porém no nível mais baixo desde dezembro de 201o.

O Nuci, por sua vez, encerrou fevereiro em 84,5%, o mesmo patamar de novembro do ano passado e a menor marca desde março de 2010. Já a média trimestral do indicador de uso da capacidade ficou estável em 84,7% nos dois primeiros meses deste ano.

"Há bastante heterogeneidade entre o comportamento dos vários segmentos", ressalta Aloisio Campelo, coordenador da sondagem. A pesquisa consultou 1.128 indústrias entre os dias 2 e 25 de fevereiro.

Ele observa que situação atual dos negócios, por exemplo, foi a variável que teve maior influencia negativa sobre a confiança da indústria. Em dois meses, janeiro e fevereiro, o indicador de situação atual de negócios caiu quase 6%, influenciado especialmente pelos segmentos de minerais não metálicos, materiais elétricos e material de transporte.

No entanto, houve crescimento nos segmentos de alimentos, têxteis, calçados e metalurgia. "A reação positiva desses setores pode estar refletindo a sinalização do governo de atuar contra a competição predatória dos importados", observa Campelo.

Emprego. Outro ponto que destoa dos demais indicadores captados pelo cenário da indústria é a perspectiva do emprego para o trimestre fevereiro, março e abril. Em fevereiro 33,4% das empresas declararam que fariam admissões para o período e 5,2% demissões. Isso levou o indicador de emprego previsto para três meses a acumular alta de mais 6% em relação a novembro.

"O indicador de emprego está exuberante na margem e não bate com os demais índices", diz o economista. Vestuário e calçados, metalurgia e indústria química, por exemplo, puxaram para cima a perspectiva de contratações para três meses.

Essa perspectiva favorável para o emprego em três meses ganha força com o cenário positivo para os negócios em seis meses. Esse indicador cresceu em fevereiro pelo segundo mês seguido e acumulou alta de quase 4% no primeiro bimestre ante dezembro de 2010. Em fevereiro 53,7% das empresas esperavam uma situação melhor dos negócios em seis meses e só 2,7% delas, pior.

Campelo destaca que o cenário favorável para seis meses está concentrado em oito setores industriais, com destaque para metalurgia, química, alimentos, vestuário e calçados, material de transporte e material elétrico.