Título: Nunca vi nada como a carnificina de Benghazi
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2011, Internacional, p. A9

Biólogo brasileiro, que passou dez dias em meio a um cenário de guerra, relata cenas de horror e esforço para sobreviver

A experiência de viver dez dias em um cenário de guerra, antes de ser resgatado com outros 148 brasileiros e 46 portugueses, será transformada em livro pelo biólogo Roberto Roche, de 52 anos, que chegou ontem ao Rio com a mulher e os filhos.

Gerente de qualidade, segurança e meio ambiente da empreiteira Queiroz Galvão, Roche já havia enfrentado dois golpes de Estado, quando viveu no Equador, nos anos 80. "Mas nada se compara à carnificina que vi em Benghazi", afirmou, na casa dos pais, em Copacabana.

Ex-aluno do Colégio Militar, Roche aplicou técnicas do tempo em que foi oficial de artilharia. "Tinha noção de como definir perímetro, a importância de se designar tarefas, fizemos vigílias em turno para monitorar a movimentação das ruas."

Os seguranças que protegiam funcionários da empreiteira abandonaram o serviço para cuidar das próprias famílias. Para evitar o desabastecimento na casa em que se reuniram os 50 funcionários da Queiroz Galvão e suas famílias, foi organizada uma busca em residências abandonadas pelo grupo.

O momento mais angustiante: quando recebeu um telefonema de Trípoli, avisando que dois caças haviam deixado a capital para bombardear Benghazi. "Isso só não ocorreu porque os pilotos desertaram. Mas não consegui dormir depois. Nem tomando calmantes", contou.