Título: ONU suspende Líbia de organismo e Hillary vê país à beira de guerra civil
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2011, Internacional, p. A9

Países estudam ações militares contra Kadafi para evitar ataques a rebeldes - Opositores repelem contra-ataque de ditador em cidade perto de Trípoli - No leste, insurgentes se armam para ofensiva contra capital - Refugiados já são mais de 140 mil

Em mais um duro golpe contra o líder líbio, Muamar Kadafi, a Assembleia-Geral das Nações Unidas decidiu suspender a Líbia do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da entidade. A medida foi tomada três dias depois de o Conselho de Segurança ter imposto sanções contra o regime líbio.

Além da diplomacia, os EUA e seus aliados também não descartam a possibilidade de operações militares contra o regime líbio, que tem reprimido violentamente os opositores. Entre as medidas estudadas está o estabelecimento de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia para evitar bombardeios contra focos opositores no leste do país e garantir a distribuição de assistência humanitária à população das regiões controladas pelos opositores de Kadafi.

Na avaliação da secretária de Estado, Hillary Clinton, "a Líbia pode se transformar em uma democracia pacífica ou enfrentar uma guerra civil de longa duração". Tudo dependerá, segundo ela disse a parlamentares em Washington, de Kadafi concordar em sair ou não do poder.

A aprovação da suspensão do país do Conselho de Direitos Humanos teve o apoio dos 192 membros da ONU - o embaixador da Líbia rompeu com Kadafi e apoia medidas contra o líder de seu país. De acordo com a decisão da Assembleia-Geral, a decisão se deveu "às sistemáticas violações dos direitos humanos" do regime líbio.

"Essa suspensão é um progresso, assim como as sanções ", disse a embaixadora dos EUA junto às Nações Unidas, Susan Rice, que também celebrou o papel de países árabes e africanos na votação na Assembleia-Geral.

A diplomata americana também demonstrou uma forte irritação com a missão da Venezuela. "Os comentários do representante venezuelano foram feios e estão no mundo da fantasia", disse Rice ao comentar as declarações do embaixador venezuelano nas discussões sobre a suspensão da Líbia.

Além de defender Kadafi, Caracas se posicionou contra a suspensão. Hugo Chávez tem sido uma das raras vozes em defesa do líder líbio (mais informações na página A11).

Por enquanto, os EUA não decidiram se apoiarão a imposição de uma zona de exclusão aérea e preferem trabalhar em conjunto com a ONU. Na resolução do Conselho de Segurança aprovada no sábado, os países-membros votaram por unanimidade em favor do julgamento de Kadafi e membros de seu regime no Tribunal Penal Internacional (TPI) e do congelamento de seus bens, além de um embargo de armas.

Na sexta-feira, em Genebra, o CDH havia condenado a recente violência na Líbia e ordenado uma investigação internacional para os abusos, além de recomendar à Assembleia-Geral a suspensão da Líbia do órgão criado em 2006. Ao todo, há 47 membros no CDH. A Líbia tinha sido admitida no ano passado com 155 votos dos países que integram a Assembleia-Geral. A escolha provocou duras críticas de organizações de defesas de direitos humanos que sempre acusaram Kadafi de reprimir opositores e ter envolvimento em atentados terroristas.

O mandato da Líbia iria até 2013 e a presença do país no CDH era um dos grandes trunfos de Kadafi. Depois de ser colocado no ostracismo pela comunidade internacional ao longo dos anos 90, o líder líbio havia conseguido superar as sanções econômicas impostas pelo CS da ONU e o embargo econômico dos EUA por ter renunciado ao seu programa de armas de destruição em massa. Os líbios chegaram a presidir a Assembleia-Geral da ONU em 2009 e Kadafi recebeu convites para conferências internacionais.

PONTOS-CHAVE

Sanções da ONU

No fim de semana, os 15 membros do Conselho de Segurança impuseram embargo na venda de armas à Líbia, além da proibição de viagens e congelamento de contas de autoridades líbias

"Crimes de guerra"

Conselho de Segurança pediu ao Tribunal Penal Internacional que investigue "crimes de guerra" de Kadafi. Cláusula no texto impede eventual investigação de americanos

Reposicionamento

EUA começaram a posicionar sua 5ª Frota, estacionada no Bahrein, no Mediterrâneo. Manobra abre caminho para eventual intervenção militar ou humanitária americana na Líbia

Espaço aéreo em debate

Sob pressão dos EUA, potências discutem a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Rússia se opõe à medida, o que pode levar a Otan a assumir a missão sem apoio da ONU

US$ 30 bi apreendidos

O governo americano bloqueou ontem US$ 30 bilhões em contas no país diretamente ligadas ao clã Kadafi. União Europeia e Suíça investigam a fortuna do ditador no continente europeu