Título: Maioria aposta em alta de 0,5 ponto
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2011, Economia, p. B1

Das 53 consultorias consultadas pela ""AE"", 47 esperam uma alta de 0,50 ponto porcentual e seis projetam uma elevação de 0,75 ponto

A resistência à queda da inflação, das expectativas, e dos indicadores de atividade, bem como o comportamento da curva de juros levaram três instituições financeiras a revisar para cima suas expectativas em relação à magnitude do aumento que o Copom deverá impor à taxa básica de juros amanhã. Departamentos econômicos do Santander e da Rosenberg & Associados elevaram de 0,50 para 0,75 ponto porcentual suas previsões.

Mudança mais radical foi feita pela Corretora Souza Barros, que saiu de uma projeção de 0,25 ponto porcentual no levantamento feito pelo AE Projeções na quinta-feira da semana passada, para 0,75 ponto.

Agora, das 53 consultorias consultadas, 47 esperam uma alta de 0,50 ponto porcentual e seis projetam elevação de 0,75 ponto. Na semana passada, três esperavam alta de 0,75 ponto porcentual; uma trabalhava com 0,25 e as demais 49 aguardavam uma majoração de 0,50 ponto porcentual na taxa Selic.

Pelo Santander, o economista Cristiano Souza explicou que a mudança foi feita com vistas às várias facetas da inflação. "O IPCA-15 de fevereiro veio acima do esperado, indicando que a inflação corrente está aumentando e não só por conta dos preços dos alimentos", diz. Ele acrescenta que o restante dos preços de bens e serviços estão aumentando. Para Souza, a inflação acumulada no primeiro trimestre deste ano poderá superar a projeção apresentada no Relatório Trimestral de Inflação de dezembro, no cenário de mercado, que considera as variações de câmbio e juros.

Na Rosenberg & Associados, a economista-chefe Thaís Zara explica que a desaceleração ainda aparentemente incipiente de alguns indicadores de atividade, o comportamento da curva de juros e a pressão de commodities foram os fatores que a levaram à revisão de sua expectativa para a reunião do Copom desta semana. "Primeiro, houve vários dados de atividade que mostraram desaceleração, mas esta foi menos forte do que se esperava, criando a sensação de ser ainda insuficiente para controlar as expectativas de inflação", explicou. Ela avalia que o mercado de trabalho, por exemplo, dá sinais de que vai demorar arrefecer.

"Além disso, o volume de concessão de crédito recuou em janeiro, mas segue em patamar alto e há sinais de que em fevereiro tenha retomado trajetória de recuperação", afirma Thaís. As taxas de juros do crédito, por sua vez, subiram, "mas ainda estão em condições muito boas". Por fim, citou a economista, o índice de confiança do consumidor subiu de 121,6 pontos em janeiro para 122,6 pontos em fevereiro, bem como cresceu no período a intenção de compra de duráveis.

Revisão. O economista-chefe da Corretora Souza Barros, Clodoir Vieira, também recorreu ao desempenho da inflação para justificar a revisão de sua projeção, de 0,25 ponto para 0,75 ponto. "Estou trabalhando com um aumento de 0,75 ponto porcentual. Em função de a inflação estar caminhando acima do centro da meta, acredito que o BC vai ser mais duro desta vez", afirma.

Os analistas que mantiveram suas projeções continuam acreditando que a redução do volume de concessão e o aumento da taxa de juros do crédito em janeiro, anunciados na quinta-feira da semana passada, serão levados em conta pelos diretores do BC para definir o rumo da política monetária. O próprio BC já havia sinalizado que aguardaria o impacto das medidas macroprudenciais para redefinir a condução da política monetária.