Título: Tesouro pensa em emitir no exterior papéis em reais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/03/2011, Economia, p. B2

O Tesouro Nacional pretenderia colocar no mercado externo títulos soberanos emitidos na moeda nacional, o real.

Normalmente isso estaria vinculado à perspectiva de desvalorização da moeda. Mas há outras razões.

Uma emissão de papéis em moeda nacional no exterior visa, em princípio, a reduzir o risco cambial. E isso se justificaria plenamente no caso do Brasil, levando em conta que os países industrializados iniciaram um processo de recuperação econômica que deverá acarretar uma redução da liquidez internacional e uma elevação das taxas de juros para os empréstimos aos países emergentes. Por outro lado, o Brasil apresenta um déficit das transações correntes do seu balanço de pagamentos, num momento em que será mais difícil compensá-lo com investimentos diretos estrangeiros, o que representará um fator suplementar de aumento da taxa de juros pelos países credores.

Em compensação, títulos emitidos em moeda nacional pelo país devedor costumam ser colocados no mercado internacional pagando uma taxa de juro maior ao país credor, que tem ciência de que as contas externas do país devedor entraram em processo de deterioração.

Há hoje no mercado internacional três lançamentos do Brasil que foram realizados em reais, com vencimentos nos anos de 2016, 2022 e 2028, num montante de R$ 11,29 bilhões, equivalentes, hoje, a cerca de US$ 7 bilhões.

Com a valorização do real, essas operações não foram vantajosas, pois, se os títulos fossem em dólares e o Brasil tivesse de reembolsá-los, faria economia, embora os tenha remunerado com juros maiores do que no caso de serem denominados em dólares. Por aí se pode concluir que as autoridades monetárias apostam, agora, numa desvalorização do real.

Todavia, uma emissão em moeda nacional não significa que o Brasil vá receber reais, o que representaria uma vantagem, na medida em que o Banco Central não teria de comprar dólares. Talvez a operação tenha um outro objetivo, como o de fornecer recursos ao BNDES, que teria uma dívida em dólares com o Tesouro, assumindo o risco cambial em proveito dele. Trata-se apenas de uma hipótese que só com o tempo poderá se confirmar ou não.

De qualquer maneira, tudo indica que o Tesouro acredita que, no momento, o risco de uma desvalorização da moeda nacional é mais provável do que o contrário, levando em conta a evolução das contas externas e a recuperação da economia dos países industrializados.