Título: Forças de Kadafi voltam a atacar Brega
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, internacional, p. A10

Pelo segundo dia consecutivo, rebeldes que controlam terminais de exportação petrolífera no leste da Líbia resistem à ofensiva

Aviões da Força Aérea leal ao ditador Muamar Kadafi despejaram bombas ontem sobre as cidades de Ajdabiya (160 km a oeste de Benghazi), o principal reduto dos rebeldes, e Brega (70 km a oeste de Ajdabya). Segundo moradores das duas cidades ouvidos pelo Estado, ninguém saiu ferido nos ataques, aparentemente destinados apenas a conter o avanço das forças rebeldes na direção do oeste.

Suhaib Salem/ReutersManifestação. Rebeldes carregam caixão vazio após enterro de mortos em combate com as forças de segurança leais a Kadafi em Brega: revolta popular Em Brega, duas bombas caíram de manhã sobre uma área desocupada no interior do complexo da refinaria Sirt Oil Company. O povoado de 2 mil habitantes é estratégico também por causa de um terminal portuário e um gasoduto até a Itália.

Segundo moradores, cerca de 500 homens (rebeldes) estão na cidade para defendê-la, mas apenas entre 150 e 200 têm armas. Saif al-Islam, um dos filhos de Kadafi, que era preparado para suceder ao pai antes da rebelião, disse que a intenção não era atingir ninguém com o bombardeio.

"As bombas eram só para assustá-los, para irem embora, não para matá-los", afirmou ele em entrevista à TV Sky News, pelo telefone.

"Estou falando sobre o posto e a refinaria de lá. Ninguém permitiria que as milícias controlassem Brega. É como permitir que alguém controle o Porto de Roterdã na Holanda."

Na quarta-feira, integrantes das forças especiais e mercenários pró-Kadafi ocuparam por algumas horas a refinaria, mas acabaram derrotados por combatentes civis apoiados por soldados rebeldes.

Em Ajdabyia, os moradores disseram que mais uma vez um avião despejou bombas na área deserta próxima à base de Hania, do Exército, onde estão armazenadas granadas propelidas por foguetes usadas pelos rebeldes no confronto com as forças de Kadafi na quarta-feira.

Desde o início da semana, pilotos aparentemente com a missão de destruir a base têm "errado" sistematicamente o alvo, ao que tudo indica, desobedecendo suas ordens.

O ponto mais ao leste controlado pelas forças leais ao regime é Ras Lanuf, que fica 800 km a leste de Trípoli e 380 km a oeste de Benghazi.

Com apenas 4 mil habitantes, o local também é estratégico por causa da refinaria Ras Lanuf Oil and Gas Company. Moradores ouvidos pelo Estado ontem disseram que a situação em Ras Lanuf é tranquila - os militares pró-Kadafi ficam nos quartéis e não são vistos nas ruas nem nas entradas da cidade.

Os bloqueios militares das forças leais ao regime começam na estrada - de cerca de 150 km - de Ras Lanuf para Sirt. Ras Lanuf é um importante centro produtor de petróleo e reduto da tribo de Kadafi.

Mercenário. Numa cena violenta em Al-Ugayla, a leste de Ras Lanuf, um rebelde gritava a poucos centímetros do rosto de um jovem africano detido sob a suspeita de ser mercenário: "Você estava portando armas, sim ou não? Você estava com as brigadas de Kadafi, sim ou não?".

O jovem, em silêncio, foi empurrado até cair de joelhos no chão de terra.

Um homem colocou uma pistola perto do rosto do rapaz, mas um jornalista protestou dizendo ao homem que os rebeldes "não são juízes".

A revolta, a mais sangrenta na atual onda de rebeliões do Oriente Médio e Norte da África, está causando uma crise humana, sobretudo na fronteira com a Tunísia, onde dezenas de milhares de trabalhadores estrangeiros se refugiaram.

A rebelião na Líbia - 12.º maior exportador mundial de petróleo - também reduziu em quase 50% a produção diária do país, de 1,6 milhão de barris por dia, que é a base da economia nacional. / COM REUTERS e EFE