Título: Importações crescem o triplo das exportações
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B1

Avanço das importações equivale a uma perda de 2,8 pontos porcentuais no PIB brasileiro, segundo cálculo de especialistas

O resultado previsível do crescimento das importações em 2010, que avançou o triplo das exportações, não deve se repetir este ano, na avaliação de especialistas. Pelos dados do PIB, as compras externas do País dispararam 36,2% no ano, resultado descolado das exportações, que subiram apenas 11,5%. O setor externo, no cálculo final, acabou por contribuir negativamente com 2,8 pontos porcentuais no crescimento econômico do ano.

"Isso já era esperado desde o início do ano passado. Mas, para 2011, ao contrário, a previsão é de que as exportações cresçam mais do que as importações", diz o presidente da Associação de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro. Ele ressalta que a reversão não tende a apresentar margem tão larga de diferença entre compra e venda, mas será um "quadro mais realista".

Com câmbio favorável e demanda interna aquecida após o freio de 2009, o Brasil importou principalmente equipamentos de comunicação, material eletrônico e elétrico, produtos siderúrgicos, automotivos, químicos e derivados de petróleo.

Segundo Castro, as medidas de contenção à demanda adotadas pelo governo no fim de 2010 já começam a surtir efeito: "Em janeiro e fevereiro as exportações cresceram mais que as importações e estamos prevendo para 2011 superávit de US$ 26 bilhões, bem mais folgado que os US$ 20 bilhões de 2010. O único receio é com o comportamento mundial, agora com essa instabilidade no norte da África e Oriente Médio".

A economista Lia Vals, da Fundação Getúlio Vargas, chama a atenção para o fato de os dados do PIB serem calculados em reais, o que gera diferença na avaliação. Em dólares, lembra ela, o avanço das importações foi bem grande, de 42%, mas as exportações também tiveram aumento forte, de 32%. A diferença ficou em 10 pontos porcentuais, e não os quase 25 pontos em reais.

"O aumento das importações chega a ser positivo para alguns setores industriais, que reduzem o custo de capital, o que leva a um aumento de competitividade", diz ela, lembrando que o Brasil tem adotado medidas de salvaguarda comercial com sucesso.

O coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Luis Olinto Ramos, foi evasivo ao avaliar os efeitos da valorização cambial no PIB. "Para julgar se é benéfico ou não, precisaríamos de mais análises e informações. Não podemos classificar como bom ou como ruim", afirma.

A contabilidade das exportações e importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços e as variações porcentuais dizem respeito ao volume. Já na balança comercial entram só bens e o registro é em valores, com grande influência dos preços./ COLABOROU ALESSANDRA SARAIVA