Título: Temos de diminuir a expansão para 4%
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B1

Para ex-diretor do BC, só um freio no crescimento fará a inflação voltar para perto do centro [br]da meta de 4,5%

Alexandre Schwartsman, economista

O economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), não tem dúvidas: a inflação vai forçar uma desaceleração da economia em 2011 para menos de 4%. Para ele, o País não tem como crescer os 5% esperados pelo governo sem superar a meta de inflação.

É para comemorar a alta recorde do PIB de 7,5%?

É bom, mas a gente vem de uma queda de 0,6% em 2009. Com esse resultado em 2010, a gente mais ou menos voltou à tendência de crescimento que tínhamos antes de 2008.

O resultado altera as projeções para o crescimento em 2011?

Reavaliamos e baixamos bem a previsão para este ano. Não que a economia esteja fraca. Se quiser trazer a inflação para baixo, é preciso diminuir a demanda, fazer com que o PIB efetivo cresça menos do que o potencial por algum período. Temos de diminuir essa velocidade do crescimento para algo em torno de 4% anualizado.

Seria um ritmo sustentável?

É abaixo do potencial, mas tem de ser, para trazer a inflação para baixo. Sem baixar o crescimento a menos desse número, não se consegue.

Está confiante de que o governo adotará as medidas para esse ajuste?

De uma forma ou de outra, alguém vai ter de fazer. A nossa projeção de inflação para este ano é de 6%. Para realmente trazer a inflação para a meta, é preciso um esforço muito maior.

O governo diz esperar crescimento de 5% este ano.

Se o PIB este ano crescer 5%, a inflação não vai para baixo.

O consumo manteve forte alta em 2010, mesmo com as medidas de contenção. Há inconsistência na política econômica?

Praticamente só há inconsistências na política econômica. Não sei qual é a surpresa em relação ao consumo, se já havia indicações das vendas do varejo em dezembro. Há um elemento que não se consegue quantificar. O governo adotou medidas de restrição de crédito no fim de 2010, cujo efeito começa a ser sentido agora. Deve trazer alguma desaceleração no consumo,

Quais as inconsistências?

Várias. O governo está botando o pé no freio da política monetária e no acelerador da fiscal.