Título: Diretor-gerente do FMI alerta para sobreaquecimento
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B1

Strauss-Kahn disse,porém, que o governo está adotando medidas fiscais e monetárias para conter o aquecimento

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, manifestou ontem preocupação com o risco de sobreaquecimento da economia brasileira, defendeu reformas econômicas, mas também fez questão de mostrar uma faceta pouco conhecida da instituição tão criticada no passado, sobretudo pela esquerda brasileira: a preocupação social. Segundo ele, o crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010 evidenciou o risco de uma excessiva expansão no País, preocupação que se estende aos demais emergentes. Por outro lado, Strauss-Kahn salientou ser necessário buscar um ritmo de expansão sustentável, mas promovendo inclusão social e combatendo a desigualdade e a pobreza.

O diretor do Fundo, que ontem se reuniu com as principais autoridades econômicas do Brasil e com a presidente Dilma Rousseff, destacou que o mundo está em processo de recuperação econômica, mas em ritmos diferenciados: enquanto Ásia e América Latina crescem de forma "bastante rápida", a recuperação é mais incerta nos Estados Unidos, e lenta na Europa.

"O problema nessa recuperação em curso é duplo: o primeiro é o risco de sobreaquecimento nos países emergentes, e nesse ponto de vista, o Brasil é um bom exemplo; e o segundo, vem dos problemas no norte da África e suas consequências nos preços do petróleo", ponderou Strauss-Kahn.

Especificamente sobre o Brasil, o executivo disse que a forte expansão de 7,5% era esperada, mas ressaltou que o governo já adotou medidas fiscais e monetárias para conter o aquecimento. "É de se esperar que economia se desacelere para um nível sustentável", afirmou. Para ele, apesar dos avanços, a redução do número de pessoas abaixo da linha da pobreza ainda "é um desafio".

Mea-culpa. O diretor do Fundo tentou contemporizar a polêmica sobre a questão fiscal, que causou atritos no início do ano entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e a instituição. Ele fez um mea-culpa sobre a projeção do monitor fiscal para as contas públicas brasileiras, que levou Mantega a dizer que o documento havia sido elaborado por "velhos ortodoxos". "Fazemos projeções várias vezes ao ano e levamos em conta aquilo que já foi anunciado", afirmou. "Sabíamos muito bem que alguma medida seria anunciada, mas não podíamos contar com ela antes", acrescentou.

O executivo afirmou que, na projeção mais recente do Fundo, o mais correto seria colocar uma nota de rodapé elucidando as variáveis que foram consideradas para apresentar a estimativa, que, segundo o Fundo, era para 2011 e não para 2010. "Não foi bem explicado", disse.