Título: Consumo puxa expansão recorde do PIB e reforça temor de alta da inflação
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B1

Crescimento econômico em 2010, de 7,5%, é o maior desde o Plano Cruzado, de 1986, e bate muitos recordes, de investimentos a importações

O PIB brasileiro, a soma de todos os bens e serviços produzidos no País, cresceu 7,5% em 2010, o melhor resultado desde o Plano Cruzado, em 1986, quando a expansão foi exatamente a mesma. O crescimento de 2010 fechou uma média anual de 4% na era Lula, ante 2,3% no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Apesar do desempenho espetacular em 2010, a economia terminou o ano em desaceleração e a projeção média do mercado para o crescimento de 2011 é de 4,3%. A freada, porém, não atingiu o consumo das famílias, que foi surpreendentemente forte no último trimestre: 2,5%, ou 10,4% em termos anualizados, ante o terceiro trimestre, na série livre de influências sazonais.

Para muitos analistas, isso é sinal de que a desaceleração pode não ser suficiente para conter a inflação. "O consumo indica que trazer essa demanda para baixo vai ser mais demorado do que se pensa", disse Gino Olivares, economista-chefe da Brookfield Gestão de Ativos.

Vindo na esteira do crescimento negativo do PIB de 0,6% em 2009, o ano de 2010 acumulou uma grande coleção de recordes na atual série das Contas Nacionais, iniciada em 1996: além do maior crescimento do PIB, registrou-se a maior expansão dos investimentos (21,8%), do consumo das famílias (7%), das importações (36,2%), da indústria como um todo (10,1%), da indústria extrativa-mineral (15,7%), da indústria da transformação (9,7%), da construção civil (11,6%), do comércio (10,7%), do item "transporte, armazenagem e correio" (8,9%) e até dos impostos (12,5%).

O ano de 2010 começou em ritmo muito acelerado, resultado das medidas de estímulo após a crise global e da base de comparação deprimida de 2009. Na segunda metade do ano, houve desaceleração. Assim, a economia cresceu 9,2% no primeiro semestre, ante igual período do ano anterior, e 5,9% no segundo, na mesma medida. Do terceiro para o quarto trimestre, porém, houve leve reaceleração na taxa dessazonalizada ante o trimestre imediatamente anterior: 0,4% no terceiro (1,6% anualizado) e 0,7% (3%) no quarto.

Só serviços. No último trimestre do ano, apenas os serviços apresentaram crescimento, de 1% (4,1% anualizados), ante o trimestre anterior, na série dessazonalizada. A agropecuária caiu 0,8% (3,2% anualizados) e a indústria recuou 0,3% (1,2%).

O PIB cresceu 5% no último trimestre, comparado ao mesmo período de 2009. Nesta base de comparação, os serviços cresceram 4,6%; a indústria, 4,3%; e a agropecuária, 1,1%. Os impostos, por sua vez, cresceram 10,1%. No ano, os tributos tiveram alta de 12,5%, puxada pelo crescimento da arrecadação do ICMS (11,3%), do Imposto de Importação (42%) e do IPI (17,3%).

Segundo o IBGE, a demanda interna cresceu 10,3% em 2010. O adicional de demanda em relação à expansão de 7,5% do PIB - de 2,8 % - foi suprido pelo setor externo, com as importações crescendo três vezes mais que as importações. O valor do PIB atingiu R$ 3,675 trilhões.