Título: Para analistas, alta da Selic reforçou credibilidade do BC
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B8

Porém, há dúvidas em relação à eficácia das medidas para esfriar a demanda e desacelerar a economia

A alta de 0,5 ponto porcentual da taxa Selic, para 11,75% ao ano, reforçou a credibilidade do Banco Central, na opinião de analistas do mercado. A decisão anunciada na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom) foi coerente com o conteúdo da ata da reunião anterior do colegiado, quando a magnitude da elevação também havia sido de 0,5 ponto, segundo análise de Samuel Pessôa, sócio da Tendências Consultoria.

Há dúvidas, porém, quanto à eficácia das medidas macroprudenciais para esfriar a demanda agregada. A expectativa é de que mais medidas sejam anunciadas neste ano. Elas foram o instrumento adotado pelo BC em dezembro para controlar as condições monetárias, ao lado da taxa Selic.

Do lado do juro, as projeções dos analistas ouvidos pela Agência Estado indicam que a taxa Selic deve fechar o ano em 12,75%.

Os analistas, no entanto, mostram preocupação com o descompasso entre demanda e oferta. Essa é uma área que tem incomodado o Banco Central e deve ganhar destaque na ata do Copom desta semana, que deve ser divulgada no dia 10. As expectativas de inflação, cada vez mais longe do centro da meta de 4,5%, também devem ganhar relevo na ata.

No caso do descompasso entre oferta e demanda, dois pontos ganham destaque. Do lado dos investimentos, a FBCF acumulou expansão de 21,8% em 2010 ante 2009. Na outra ponta, está a constatação de que o consumo das famílias respondeu por cerca de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. No geral, pode-se observar que a poupança continua baixa no País.

Impacto. Para Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citibank no Brasil e ex-chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep) do BC, conseguir ancorar as expectativas é o grande esforço do BC agora, pois é difícil trazer inflação para a meta sem antes fazer essa ancoragem.

Do ponto de vista inflacionário, porém, não dá para saber o impacto preciso das medidas macroprudenciais sobre a demanda agregada. Segundo Pessôa, essas medidas têm mostrado efeito sobre o crédito em áreas que têm apresentado melhor comportamento da inflação, como automóveis.

"Para a inflação de serviços não tem jeito. Só uma coisa funciona: a alta do juro", afirma o economista da Tendências. A inflação de serviços atingiu recorde de 8,4% no IPCA-15 de fevereiro e deve continuar elevada no IPCA fechado daquele mês, que será divulgado hoje.

Um ponto é importante nessa equação. A recuperação da economia brasileira, após a crise americana das hipotecas de alto risco (subprime), ocorreu com um desajuste estrutural.

Esse processo ficou claro no resultado do PIB de 2010. "Dá impressão de que a economia saiu da crise com um balanceamento diferente entre os setores", diz Pessôa. Isso significa que as medidas macroprudenciais não têm impacto igual sobre os vários setores da economia.