Título: Governo repassa mais R$ 55 bilhões ao BNDES
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B8

Banco deve despejar R$ 145 bilhões para financiar empresas; desse total, R$ 75 bilhões serão usados para financiar a produção de bens de capital

O Tesouro Nacional vai injetar mais R$ 55 bilhões no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), conforme antecipou o "Estado". Os recursos serão usados para reforçar as linhas de financiamento do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado para estimular a venda de bens de capital e a inovação no País.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o PSI será prorrogado até o fim do ano e terá orçamento total de R$ 75 bilhões. O restante será do próprio BNDES. O programa, que foi estendido pela terceira vez, terminaria no fim deste mês. Com a prorrogação, as linhas de financiamento foram reformuladas e as taxas de juros serão elevadas a partir de abril.

As grandes empresas sofrerão mais com o aumento do custo do financiamento. Ainda assim os juros continuarão muito mais atrativos que os do sistema financeiro. Algumas linhas do programa têm taxas reais negativas.

Mantega disse que o BNDES deve despejar R$ 145 bilhões (incluindo o PSI) este ano na economia em forma de financiamento às empresas. Esse dinheiro vai turbinar o setor de crédito, no momento em que o Banco Central elevou a taxa Selic para conter o consumo e diminuir a pressão inflacionária.

O ministro, porém, rechaçou qualquer ligação entre os recursos disponibilizados pelo banco e o aumento da inflação. "O BNDES não pressiona a inflação, (...) O problema inflacionário é do lado do consumo e não do investimento." O desembolso previsto para este ano é praticamente o mesmo de 2010, se excluída a operação de capitalização da Petrobrás, de R$ 24,7 bilhões.

Mantega acredita que o aumento dos investimentos acima do PIB é importante para garantir um crescimento sustentado. Para ele, não há contradições, como o mercado apontou, entre o aporte de R$ 55 bilhões do Tesouro ao BNDES e o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União em 2011. "Uma coisa é gasto e a outra é financiamento de investimentos. Não estamos fazendo aquele corte tradicional que cortava tudo e fazia terra arrasada."

Em 2009 e 2010, o Tesouro transferiu R$ 205 bilhões ao BNDES, o que aumentou a dívida em títulos públicos. Segundo Mantega, se o repasse fosse suprimido este ano, haveria queda nos investimentos porque o setor privado ainda não tem condições de financiar a longo prazo. "Estamos em uma fase de transição para que setor privado possa arcar com uma fatia maior dos financiamentos de investimentos." Ele disse que o Tesouro ainda terá de fazer novo aporte em 2012, mas em valores menores."

Para obter os R$ 55 bilhões, o Tesouro terá de emitir títulos públicos, assim como fez nos dois últimos anos. Na outra ponta, equalizará a diferença entre o custo de captação do BNDES e a taxa cobrada do tomador do empréstimo. A estimativa é que os R$ 75 bilhões anunciados ontem custem R$ 4,1 bilhões aos cofres do Tesouro. O valor total chega a R$ 34 bilhões, incluindo os R$ 134 bilhões já disponibilizados desde julho de 2009, quando o programa foi criado. / RENATA VERÍSSIMO, ADRIANA FERNANDES e EDUARDO RODRIGUES