Título: Trichet avisa que juros podem subir na Europa
Autor: Milanese, Daniela
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/03/2011, Economia, p. B9

Presidente do Banco Central Europeu diz que a taxa pode subir em abril para conter a inflação, provocando forte queda no dólar e alta no euro

O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse ontem que o Conselho de Governadores do banco julga que um aumento da taxa de juro em abril é "possível", mas dependerá dos próximos indicadores econômicos. "Nunca estamos comprometidos" com mudanças das taxas, disse Trichet. Segundo ele, a decisão de ontem do conselho de manter as taxas inalteradas foi "unânime".

Trichet afirmou que qualquer alta subsequente da taxa "certamente não" será o início de uma "série" de aumento do juro. O presidente do BCE alertou que os riscos de inflação na zona do euro são altos e que uma "forte vigilância" é necessária para garantir que o aumento dos preços das commodities e da energia não se traduzam em um avanço dos índices de preço ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

A linguagem de Trichet reflete as crescentes preocupações com uma alta nos preços do petróleo causada pela onda de crises políticas no mundo árabe. Ontem, o BCE decidiu manter a taxa de juros básica em 1%.

Reação. As palavras de Trichet provocaram uma mudança nas perspectivas para a zona do euro. Analistas acreditam que haverá um ciclo de alta dos juros no próximo mês. Seria o primeiro movimento em quase dois anos. Até então, os economistas só viam um aperto monetário no quarto trimestre. Consideravam que o endividado dos países do bloco impediria uma ação mais firme. Entretanto, o BCE não deixou a menor dúvida de que a estratégia será combater a inflação, hoje em 2,4%,

A determinação vem junto com a retomada das maiores economias do bloco. Tanto que as projeções para o crescimento econômico e os índices de preços foram elevados. A expectativa de inflação para 2011 subiu para 2,3% e ultrapassou a meta.

Diversos bancos já divulgaram relatórios mudando a previsão para a primeira alta das taxas em abril, de 0,25 ponto porcentual - como Barclays, UniCredit, Rabobank e BNP Paribas. "Foi um choque", diz Marco Valli, economista do UniCredit.

Nos últimos dias, os investidores passaram a precificar um aperto monetário cada vez mais próximo. Prova disso é a valorização do euro, que deixa o dólar para trás em plena turbulência no mercado de petróleo, arranhando o status de porto seguro da moeda norte-americana. No entanto, os analistas se mostravam mais cautelosos e descartavam novidades no curto prazo. "Trichet basicamente usou todos os argumentos possíveis para vender uma alta de juros na próxima reunião", diz Elwin de Groot, do Rabobank.

Ainda há divergências sobre o que ocorrerá após a primeira alta. A maioria dos especialistas acredita que o BCE não vai ficar apenas com uma dose. O UniCredit estima mais duas elevações de 0,25 ponto porcentual cada, em setembro e dezembro. O BNP Paribas projeta a taxa em 2% até o final do ano.

 Tópicos: , Economia, Versão impressa