Título: Alta de juros segura a inflação em 5,9%¿
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2011, Economia, p. B1

Avaliação é de Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central

RIO - A elevação dos juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) é apontada pelo ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola como chave para que o teto da meta de inflação não estoure neste ano.

Na avaliação do economista, com taxas mais altas será possível trazer a inflação para o centro da meta já em 2012. Ele alerta, porém, que a política econômica continuará sob pressão, em grande parte por causa do aumento previsto para o salário mínimo no ano que vem.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Por que as medidas adotadas pelo governo para desaquecer a demanda ainda não refletiram no consumo?

Os efeitos dessas medidas, principalmente do aumento de juros, não são imediatos. Por outro lado, os efeitos das medidas de contenção de crédito já são percebidos, basicamente sobre veículos e outros bens duráveis. Porém, na realidade, vemos que a pressão inflacionária está em serviços, e demora um pouco mais para essas medidas impactarem o setor.

Há mais o que fazer, além de medidas de restrição ao crédito e de aperto monetário?

Se o Banco Central (BC) mantiver a trajetória de alta dos juros nas próximas duas ou três reuniões do Copom, e isso significa subir os juros mais 1,5 ponto porcentual, a tendência é a inflação convergir para o centro da meta em 2012 e não estourar a meta este ano. Nossa previsão de inflação para este ano, se o BC continuar essa política, é de 5,9%, abaixo do teto da meta.

Os investimentos feitos na indústria nos últimos dois anos foram suficientes para aumentar a capacidade e atender a demanda sem pressionar a inflação?

Nitidamente a demanda está crescendo muito mais do que a oferta no Brasil nos últimos anos, mas isso não minimiza o grande fluxo de investimento que houve depois da recuperação da crise do Lehman Brothers. As empresas têm investido, têm procurado expandir a oferta, mas a expansão da demanda ainda é muito forte.

O avanço dos preços das commodities no mercado internacional deve pressionar mais a inflação?

Não espero que haja uma alta de commodities nos próximos meses semelhante ao que vimos no ano passado e início deste ano. Essas cotações já estão num patamar bastante alto e dificilmente esse ritmo se mantém. Evidentemente há questões mais recentes que complicam um pouco o cenário, como o petróleo. Se isso for mais breve e não afetar a capacidade de oferta, não deve haver grande impacto por parte das commodities, mas é cedo para se ter um diagnóstico mais claro.

O corte de gastos previsto pelo governo terá efeitos no controle da inflação?

Terá. Tendo em vista a velocidade de expansão do gasto, ele mostra uma desaceleração importante. Se me perguntar se é o ideal, eu diria que não. Falta ao Brasil um programa fiscal de médio e longo prazos. O maior problema que vejo nesse corte é que ele pode até resolver este ano, mas para o ano que vem está encomendado um problema muito sério, que é essa política do salário mínimo. O PIB do ano passado avançou 7,5%. Isso vai jogar uma pressão muito grande sobre a política econômica no ano que vem. A política do salário mínimo é equivocada nesse aspecto.