Título: Inflação desacelera para 0,8% em fevereiro, mas chega a 6% em um ano
Autor: Gonçalves, Glauber
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/03/2011, Economia, p. B1

Queda no preço de alimentos e transportes contribuiu para pequeno recuo no IPCA, mas resultado ainda está alto e preocupa especialistas

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que orienta a política de metas de inflação do governo, fechou fevereiro em 0,80%, levemente abaixo dos 0,83% de janeiro. Ao contrário do mês anterior, quando os alimentos pressionaram a taxa para cima, desta vez a queda de preços de alguns gêneros alimentícios contribuiu para desacelerar um pouco a inflação.

Os preços de transportes também tiveram influência benéfica, mas a alta nos serviços, com destaque para educação, pressionou o resultado, respondendo por 51% do índice. Mesmo com a evolução mais suave, a taxa anualizada, que em janeiro foi de 5,99%, passou para 6,01%. É grande a preocupação em torno da alta inflacionária, embora comece a ser afastada a possibilidade de estouro da meta.

Uma taxa pouco abaixo do teto de 6,5% fixado pelo governo já é considerada factível. "Um resultado de 5,9% é razoável, mas 5% é praticamente impossível", afirmou Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas.

O ganho na renda obtido pela população ao longo dos últimos 12 meses tem criado um ambiente de estímulo ao aumento de preços. Segundo a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, o aumento do grupo Educação, superior ao de fevereiro do ano passado, é reflexo de um cenário onde o consumidor está "com mais dinheiro no bolso". "Além da reposição da inflação, as escolas argumentam que houve aumento da inadimplência, renovação de equipamentos e citam o aumento do salário mínimo."

O peso dos serviços no aumento dos preços fez acender o alerta que o consumo das famílias ainda não teve a desaceleração pretendida pelas medidas de restrição ao crédito tomadas pelo Banco Central (BC) em dezembro do ano passado e do atual ciclo da taxa básica de juros.

Economistas alertam, no entanto, que é normal que a economia leve mais tempo para sentir os efeitos dessas medidas, especialmente o setor de serviços. "Existe uma percepção de que a economia está desacelerando espontaneamente. Alguns setores estão com nível de atividade mais contido, como a indústria da transformação. Mas o consumo das famílias deu um salto. A desaceleração de serviços ainda vai demorar a acontecer", avalia Quadros.

No entanto, para o chefe do departamento de economia da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Tadeu de Freitas, a demora ocorre porque, embora as medidas postas em prática pelo BC tenham resultado numa concessão de crédito menor, os prazos ainda não foram encurtados.