Título: China intensifica onda de repressão
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2011, Internacional, p. A13

Vários ativistas ou críticos do governo foram presos para impedir protestos como os que vêm ocorrendo no Oriente Médio A onda de protestos contra regimes autoritários no mundo árabe e a tentativa anônima e fracassada de replicá-los na China levou o governo de Pequim a promover a maior onda de repressão a críticos do governo e ativistas políticos de anos recentes.

Desde o mês passado, pelo menos oito pessoas foram presas e acusadas de subversão ou incitamento à subversão, um dos mais graves crimes políticos do país, segundo levantamento realizado pelo Chinese Human Rights Defenders, entidade com sede em Hong Kong.

Além desse grupo, três advogados que atuam na área de direitos humanos estão desaparecidos, depois de terem sido levados de suas casas pela polícia pouco antes do dia 20 fevereiro, data escolhida pela convocação anônima para a primeira tentativa de protesto contra o governo.

Não se sabe qual a origem da mensagem em defesa da manifestação, que começou a circular em um site mantido por dissidentes nos EUA e propõe demonstrações todas as tardes de domingo em 35 cidades chinesas. Nos últimos três domingos, a polícia ocupou os locais apontados nas convocações e nenhuma demonstração significativa ocorreu.

"Esse é o mais sério movimento de repressão a ativistas políticos na China desde que começamos a fazer levantamentos dos casos de violação dos direitos humanos, há cinco anos", disse ao Estado Wang Songlian, diretora da ONG.

Com militância de mais de uma década como advogado especializado em direitos humanos, Xu Zhiyong afirmou que nunca viu uma onda de repressão tão severa. A mesma opinião é compartilhada por Liang Xiaojun, defensor de um dos advogados que estão desaparecidos, Jiang Tianyong, que atuou em vários casos de perseguição religiosa. Os outros dois advogados são Tang Jitian e Teng Biao, que frequentemente lança mão da própria legislação chinesa para defender suas posições, sempre sem sucesso.

Na avaliação de Wang Songlian, a situação atual é bem mais grave que a da Olimpíada de 2008, quando a paranoia das autoridades chinesas em relação à segurança estava no auge. Também supera a perseguição que ocorreu em dezembro de 2008, quando 303 intelectuais e ativistas chineses assinaram a Carta 08, documento em defesa de reformas democráticas e do fim do regime de partido único. O idealizador do manifesto foi Liu Xiaobo, o vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2010. Preso em 2008, ele foi condenado no ano seguinte a 11 anos de prisão sob acusação de subversão.