Título: Conflito religioso deixa 13 mortos no Egito
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2011, Internacional, p. A13

As autoridades egípcias informaram ontem que pelo menos 13 pessoas morreram vítimas de disparos durante confronto entre cristãos copta e muçulmanos no Cairo. Cerca de 140 pessoas ficaram feridas. O conflito ocorreu quando os cristãos realizavam um protesto contra a discriminação que sofrem no país.

A revolta mais recente dos coptas começou no sábado, quando uma igreja foi incendiada em Helwan, ao sul da capital egípcia. O ataque foi desencadeado por uma briga entre duas famílias de religiões diferentes inconformadas com um caso de amor entre dois de seus parentes, uma muçulmana e um cristão. Histórias parecidas já provocaram tensões do gênero no Egito.

Desde o incêndio, centenas de coptas começaram a realizar manifestações diante da sede da televisão estatal egípcia. No fim da noite da terça-feira, eles bloquearam uma rodovia - onde também vinham ocorrendo protestos com pneus em chamas - e começaram a atacar com pedras os veículos que tentavam passar. Mas acabaram sendo atacados por ativistas muçulmanos.

Os confrontos duraram cerca de quatro horas. Até ontem, não se sabia quantos dos mortos eram coptas ou islâmicos. Os feridos foram atingidos por disparos, sofreram pancadas na cabeça e fraturas, informou um funcionário do Ministério da Saúde. Pelo menos um dos mortos, um cristão de 18 anos, foi morto com um tiro nas costas.

Não ficou claro quem começou o tiroteio. Segundo a agência Reuters, na tentativa de restabelecer a ordem na capital, os militares chegaram a realizar disparos para o ar.

Buscando reduzir a tensão entre coptas e muçulmanos, o marechal Mohamed Hussein Tantawi, líder do Conselho Supremo das Forças Armadas, prometeu que os militares vão reconstruir a igreja incendiada em Helwan antes da Páscoa. A Igreja Copta não comentou a violência, ao contrário do que fazia no passado, quando costumava pedir calma após confrontos entre cristãos e muçulmanos.

"O governo (interino) agora não tem força ou autoridade, nem poderio militar, para separar muçulmanos e cristãos", disse o analista político Diaa Rashwan. A força policial egípcia ainda não reassumiu as ruas do país desde a queda do presidente Hosni Mubarak, o que aumenta a responsabilidade dos militares no controle do espaço público.

Antes da revolta no Egito, a tensão entre muçulmanos e cristão já vinha aumentando no país. Na madrugada de 1.º de janeiro, um atentado a bomba durante uma missa de ano-novo matou 21 pessoas em uma igreja de Alexandria - mais de 70 ficaram feridas.

Dez dias depois, um policial de folga matou a tiros um cristão de 71 anos em um trem entre o Cairo e Assiut - a mulher do idoso e outros quatro passageiros foram atingidos.