Título: China vai construir 10 milhões de casas
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/03/2011, Economia, p. B8

Programa habitacional prevê 36 milhões de moradias populares até 2015; investimento governamental deve ser de US$ 200 bilhões este ano

A China vai investir US$ 200 bilhões na construção de 10 milhões de casas populares neste ano, afirmou ontem o vice-ministro de Habitação e Desenvolvimento Urbano-Rural, Qi Ji. O valor correspondente a um terço do pacote de estímulo anunciado por Pequim no fim de 2008, depois da explosão da crise financeira global, e levou a níveis recordes as ações de fabricantes de cimento negociadas ontem na Bolsa de Hong Kong.

O programa habitacional também deverá manter aquecida a demanda chinesa por minério de ferro, matéria-prima do aço e principal produto de exportação do Brasil para o país asiático no ano passado. A forte e persistente alta no preço dos imóveis se transformou no principal problema social da China ao lado da inflação. Famílias da emergente classe média enfrentam dificuldades crescentes para comprar apartamentos ou casas, sonho ainda mais distante da massa de chineses de baixa renda.

Muitos analistas acreditam que o setor imobiliário está envolto em uma bolha inflada por aquisições de investidores que não têm opções rentáveis para aplicar seu dinheiro e se proteger contra a alta de inflação, que chegou a 4,9% em janeiro.

Para amenizar o descontentamento social gerado pela alta no preço de residências, o governo planeja construir 36 milhões de casas populares até 2015 _10 milhões por ano em 2011 e 2012 e 16 milhões nos três anos seguintes.

"Alta exorbitante". No discurso que pronunciou na abertura da reunião anual do Congresso Nacional do Povo, no sábado, o primeiro-ministro Wen Jiabao reconheceu que o preço dos imóveis teve altas "exorbitantes" em algumas cidades e prometeu medidas para controlar o setor.

O vice-ministro da Habitação afirmou em coletiva ontem que a elevação no valor dos apartamentos e casas nos últimos anos foi provocada pela demanda de especuladores, principal alvo das restrições adotadas nos últimos meses para aquisição de imóveis. "Nosso objetivo principal é direcionar a limitada oferta de habitações para aqueles que mais precisam", declarou Qi Ji.

De acordo com a imprensa oficial, o governo ficou perto de atingir a meta de construção de 5,8 milhões de casas populares no ano passado, pouco mais da metade da cifra prevista para 2011.

Pesquisa realizada pelo banco central em dezembro mostrou que a insatisfação da população com a inflação atingiu o maior patamar em 11 anos, acendendo a luz amarela em Pequim quanto a eventuais focos de manifestações contra o governo.

O nervosismo dos líderes do Partido Comunista foi acentuado pela onda de protestos contra regimes autoritários no mundo árabe, que levou ao aumento da repressão contra ativistas políticos dentro da China.