Título: Repórter do Guardian continua preso
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2011, Internacional, p. A12

Governo da Líbia mantém sob custódia Ghaith Abdul-Ahad, jornalista nascido no Iraque que viajava com o enviado especial do ''Estado''

O governo líbio confirmou ontem que o repórter Ghaith Abdul-Ahad, do jornal britânico "The Guardian", está preso no preso no país. O jornalista entrou na Líbia vindo da Tunísia, juntamente com o correspondente do "Estado", Andrei Netto, libertado ontem. Segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, outros sete repórteres estão desaparecidos na Líbia.

Tara Todras-Whitehill/APOfensiva. Forças pró-Kadafi após ação na região de Ras Lanuf: depois de forte bombardeio na cidade, rebeldes desocupam complexo petroquímico local A entidade internacional registrou 12 detenções de profissionais da área desde o começo da revolta no país, no dia 15 de fevereiro.

Uma equipe da emissora britânica BBC foi espancada e torturada na segunda-feira por forças de segurança ligadas ao ditador Muamar Kadafi. Repórter, cinegrafista e produtor contaram que ficaram detidos por 21 horas e conseguiram deixar a Líbia depois de libertados.

De nacionalidade iraquiana, Abdul-Ahad, não contaria com apoio diplomático da Grã-Bretanha para sua libertação. Depois de entrar na Líbia pela fronteira oeste, o repórter estabeleceu o último contato com o Guardian no domingo, quando chegou ao veículo o último recado de seu jornalista. Segundo o jornal, ele estava nas imediações de Zawiya quando mandou a mensagem.

O repórter do Estado Andrei Netto contou que quando as últimas informações de Abdul-Ahad chegaram ao Guardian ambos já haviam sido presos. A detenção ocorrera quatro dias antes, em Sabratha.

O Guardian afirmou que entrou em contato com autoridades líbias e britânicas para garantir e libertação, o bem-estar e a segurança de seu repórter, que atua no jornal desde 2004 e já passou longos períodos - e ganhou vários prêmios - como correspondente do jornal na Somália, Sudão, Iraque e Afeganistão relatando o sofrimento de populações em regiões de conflito.

Abusos. Os três jornalistas da BBC detidos na segunda-feira - Chris Cobb-Smith, Feras Killani e Goktay Koraltan - contaram que foram agredidos com socos e submetidos a uma "falsa execução". Eles acabaram presos enquanto tentavam contornar o cerco a Zawiya e acabaram levados a um acampamento em Trípoli, onde foram algemados e encapuzados antes que os espancamentos começassem.

Cobb-Smith contou que um dos agentes, que estava à paisana, apontou uma submetralhadora ao pescoço de todos e, quando chegou a sua vez, o líbio disparou a arma. "As balas zumbiram no meu ouvido. Os soldados riam."

"Jornalistas correm grandes riscos para garantir que um retrato fiel do que ocorre em zonas de conflito emerja. Têm um papel extremamente importante para trazer à luz violações", declarou ontem a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pilay, que condenou a detenção e "possível tortura" da equipe da BBC.

Profissionais líbios. O Comitê para a Proteção aos Jornalistas afirmou ontem que sete jornalistas que vivem em Trípoli estão desaparecidos. Atef al-Atrash sumiu depois de falar à Al-Jazira em Benghazi. Segundo a entidade, os outros desaparecidos são o blogueiro Mohamed al-Sahim, o cartunista Mohamed al-Amin, o editor Idris al-Mismar, o diretor do Sindicato dos Jornalistas da Líbia, Salma al-Shaab e o correspondente Suad al-Turabouls.

CERCO À LIBERDADE DE IMPRENSA

The Guardian:

O repórter Ghaith Abdul-Ahad, que trabalha para o diário britânico desde 2004, ainda está preso na Líbia. Ele foi detido em Zawiya juntamente com o enviado especial do "Estado" Andrei Netto. O diário está em contato com as autoridades líbias para obter a libertação do jornalista iraquiano.

BBC:

Três jornalistas da BBC - Chris Cobb-Smith, Feras Killani e Goktay Koraltan - foram detidos na segunda-feira em Zawiya, agredidos com socos e submetidos a uma "falsa execução".

Repórteres líbios:

Segundo Comitê para a Proteção dos Jornalistas, 12 profissionais foram detidos na Líbia desde o início dos protestos, em 15 de fevereiro, e ainda há 7 repórteres líbios desaparecidos.

Al-Jazira:

Tevê por satélite do Catar informou que seu sinal sofreu interferências no final do mês passado e acusou o regime de Muamar Kadafi pelo ocorrido.