Título: Dalai-lama abandonará suas funções políticas
Autor: Trevisan, Cláudia
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2011, Internacional, p. A15

Líder de tibetanos no exílio passará o poder a um primeiro-ministro que será eleito dia 20, mas manterá o papel de guia espiritual de seu povo

O dalai-lama anunciou ontem que pretende se afastar da liderança política do governo tibetano no exílio e transferir o poder a um sucessor eleito por seus seguidores. O religioso manterá o papel de líder espiritual, que só chegará ao fim com sua morte.

"Desde os anos 60, tenho repetidamente afirmado que os tibetanos precisam de um líder, eleito livremente por povo, a quem eu possa transferir o poder. Chegamos ao momento de colocar isso em prática", disse o dalai-lama. A proposta será levada ao Parlamento tibetano no exílio no dia 14 e no dia 20 os tibetanos que vivem fora da China elegerão um novo primeiro-ministro.

No seu comunicado, o dalai-lama atacou as políticas chinesas para o Tibete e afirmou que a população da região vive em constante "medo e ansiedade", sob a vigilância permanente de tropas do Exército. O anúncio coincidiu com os 52 anos do levante contra o domínio chinês que levou o líder religioso e centenas de tibetanos a fugir para a Índia, onde criaram o governo no exílio em Dharamsala.

Abertura. O dalai-lama elogiou os movimentos não violentos que levaram à queda de governos no mundo árabe e ressaltou que é cada vez maior o número de intelectuais chineses que pedem reforma e abertura política. "O premiê Wen Jiabao também expressou apoio a essas preocupações."

A transferência da liderança política não significa que o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1989 deixará de ter papel proeminente na condução dos tibetanos. "O dalai-lama não vai se aposentar e continuará a promover a causa tibetana ao redor do mundo", disse ao Estado Kate Saunders, porta-voz da Campanha Internacional pelo Tibete.