Título: Para o BC, ata refaz comunicação com o mercado
Autor: Graner, Fabio ; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2011, Economia, p. B3

O Banco Central considera que a ata da reunião do Copom colocou "um horizonte" para o comportamento da economia e aposta que a mensagem será compreendida pelo mercado financeiro, restabelecendo uma boa comunicação com a instituição. A diretoria do BC sugere que o documento traz informações objetivas, "que agora o mercado vai digerir", e não contraria análises de que nova rodada de medidas para conter pressões localizadas de demanda pode significar um período mais curto e taxas menores para o ajuste da Selic.

Esse "cenário alternativo" faz um contraponto às próprias avaliações internas, sustentadas em informações do mercado. Na ata, o BC não deixa de expressar sua preocupação com a inflação, as incertezas sobre o mercado externo, dúvidas quanto a solvência de países, o processo inflacionário no mundo e a perspectiva de que não deve haver reversão na recuperação de economias, como a dos Estados Unidos, zona do euro e Japão.

Supõe, no entanto, que está explicitando que os efeitos da contenção do crédito e da alta dos juros ainda vão impactar a economia. Além disso, reforça que as medidas macroprudenciais potencializam os efeitos da alta de juros, que já afetam a atividade econômica. Ou seja, o BC não quer mesmo correr o risco de jogar a atividade econômica para abaixo do chamado "PIB potencial", que define o crescimento sem inflação por haver equilíbrio entre oferta e procura. Atualmente, a referência é um crescimento entre 4,5% e 5%.

O Banco Central explicita no documento o que economistas comentavam nos bastidores: no terceiro trimestre a inflação ainda estará alta e acima do centro da meta, e só em 2012 o IPCA vai ceder para pouco abaixo de 4,5%. Segundo fonte do governo, se havia a visão de suposto déficit na comunicação do BC com o mercado, esse déficit está liquidado. O mercado entendeu, na leitura do parágrafo 31 da ata do Copom, que os juros não vão subir muito mais e o BC deve aplicar apenas mais uma alta de 0,5 ponto porcentual na Selic. "O artigo é autoexplicativo. O mercado saberá digerir", disse uma fonte ao Estado.