Título: Governo está dividido sobre o câmbio
Autor: Fernandes, Adriana ; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/03/2011, Economia, p. B4

Equipe econômica analisa medidas para conter valorização do real, como alta do IOF, mas teme afetar investimentos produtivos

O governo estuda a adoção de novas medidas cambiais, mas está tendo que lidar com um cenário cada vez mais complexo para evitar efeitos colaterais danosos aos investimentos no País. No esforço de combater a valorização do real, a equipe econômica enfrenta o dilema entre acionar um novo arsenal e espantar os investimentos necessários para a sustentabilidade de crescimento de longo prazo.

Estão na mesa de discussões medidas adicionais, como aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o capital externo em aplicações de renda fixa e variável, adoção de uma quarentena para a saída dos recursos do País e novas restrições à exposição de dólares dos bancos, que captam recursos lá fora.

No entanto, em todos os cenários está presente a preocupação com o risco para o financiamento do investimento.

Alguns técnicos avaliam que uma ação mais forte para conter a valorização do real significará um ônus colateral maior, o que exige muita cautela por parte do governo.

Desde meados de janeiro, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, reúne os assessores mais próximos para discutir novas ações para controlar a queda do dólar. Alguns integrantes do governo, segundo apurou o Estado, defendem a equiparação do IOF de aplicações de renda variável (hoje em 2%) com o de renda fixa (de 6%).

Empréstimos. Por outro lado, o aumento da taxa Selic pelo BC neste ano até agora em 1 ponto porcentual - de 10,75% para 11,75% ao ano - reforça a posição dos que defendem uma elevação na alíquota do IOF que incide sobre as aplicações de renda fixa para diminuir o diferencial entre os juros externos e internos. Com o novo ciclo de alta das taxas de juros, esse diferencial aumenta.

Os números do BC divulgados até agora, no entanto, demonstram que nem as aplicações em bolsa de valores, tampouco em renda fixa, têm sido o motor da forte entrada de dólares neste início do ano. O ingresso maior está ligado justamente ao aumento dos empréstimos externos tomados no exterior e investimentos diretos. Existem ainda os que propõem que a solução seja impor novas restrições à exposição em câmbio dos bancos.

Em janeiro deste ano, o Banco Central adotou medidas para redimensionar as posições de câmbio das instituições financeiras, por meio de um depósito compulsório sobre o valor da posição vendida em dólares.

Porém, faltando menos de um mês para a medida entrar em vigor, a posição dos bancos - que chegou a diminuir - voltou a subir.

Dificuldade. Defendida por uns e criticada por outros, a política de maior intervencionismo do governo no mercado de câmbio acaba dificultando mais o trabalho de controle da inflação, em curso pelo BC.

Isso porque a cotação do dólar funcionava como uma espécie de amortecedor do aumento nos preços das commodities internacionais, que têm impacto importante nos índices de preços nacionais. Havia até uma correlação inversa, que o BC durante muito tempo insistiu em ressaltar, entre os preços das commodities e a taxa de câmbio.

Com a estratégia recente de não deixar o dólar cair abaixo de R$ 1,65, no entanto, esse efeito foi diminuído sensivelmente. Enquanto as commodities no primeiro bimestre do ano subiram quase 9%, o dólar praticamente ficou estável em comparação com o real.